Candidata de uma nota só
Simone tenta voo solo, mas está mais para usar garupa alheia
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emMenor audiência do Jornal Nacional entre os quatro principais presidenciáveis entrevistados, a senadora Simone Tebet pode ter – e tem – numerosas qualidades políticas, entre elas o benefício de, até agora, não haver dúvidas a respeito de sua honestidade como vice-governadora de Mato Grosso do sul, ex-prefeita de Três Lagoas (MS) e ainda ter sido deputada estadual. Também tem a seu favor o fato de ser filha de Ramez Tebet, ex-presidente do Congresso, não destilar gratuitamente ódio contra adversários e, principalmente, detestar brigas públicas. Como candidata de uma nota só ao Palácio do Planalto, entrou de corpo e alma na batalha e, mesmo sem apoio algum do seu partido, o MDB, colocou em mesa questões caras aos brasileiros e que ainda não haviam sido debatidas claramente pelos demais postulantes.
Corajosa e destemida (quem assistiu ao debate da Band observou), obviamente que ela não tem ideia do que fazer concretamente caso a natureza conspire, os raios mudem de rota, os ventos uivem com menos violência e os terremotos, maremotos e tufões resolvam dar uma circulada por terras tupiniquins. No entanto, já deu mostras que não foge do ringue, mesmo quando, nos rounds decisivos, tiver de enfrentar adversários mais duros, imediatistas e muito mais mortais do que as briguinhas sórdidas por poder. Refiro-me à fome, à desigualdade, à miséria, à educação de qualidade e, sobretudo, à saúde decente para todos os brasileiros. São questões básicas, mas que, sabe-se lá porque razão, os potenciais candidatos preferem passar por cima. Tratam esses temas com mentiras ou com se fossem perfumarias.
Torcendo claramente para que o povão que conseguiu se livrar da Covid-19 se dane de vez, um dos presidenciáveis consegue debochar da fome: “Se a gente for em qualquer padaria, não tem ninguém ali pedindo para você comprar um pão para ele. Isso não existe. Nobre candidato, o senhor deve ter razão. Isso realmente não existe nas padarias da Dinamarca, Noruega, Finlândia, Holanda, Alemanha, Espanha, Suécia, Suíça, República Tcheca, Canadá e, acreditem, de Portugal. Por aqui, faltam padarias para absorver tantos pedintes. E saiba que a maioria desses pedintes tinha emprego, salário e dignidade até bem pouco tempo. Ele voltou atrás, mas a caca já estava feita.
Perderam tudo isso e mais o respeito que tinham pelo país e pelo governo que os abandonaram à própria sorte. Infelizmente, candidatos à Presidência da República não são produzidos à base de coragem e destemor. Além de aporte financeiro, é necessário apoio político-partidário. Isso Simone Tebet não tem nem do partido ao qual está filiada e pelo qual se candidatou. Provavelmente ela topou o front acreditando conquistar votos dos eleitores que insistem no antipetismo ou daqueles que não votam em Jair Bolsonaro nem sob tortura. O problema é que o MDB não a quer. Dos 27 diretórios nacionais, 13 já fecharam publicamente com Luiz Inácio.
O restante esconde o apreço pelo PT ou aguarda a melhor oferta para o futuro. A verdade é que, do mesmo modo que Ulysses Guimarães, em 1989, e Orestes Quércia, em 1994, ela está só. Como o Sr. Diretas já e o governador paulista que vendeu a Vasp para Wagner Canhedo, Simone é candidata dela mesma. São as nuances da política nacional, na qual tudo é possível, conforme definição cunhada pelo próprio Ulysses. Político de grife e uma das figuras mais importantes a habitar o Congresso Nacional, o velho cacique emedebista conseguiu tudo na vida, inclusive morrer sem ter o corpo sepultado.
Entretanto, sua máxima excelência não soube, não teve tempo ou não pode aglutinar seu partido, o então MDB, depois PMDB e hoje novamente o conflitante, colidente, discordante e destoante MDB. Harmonia passou longe desse amontoado de pessoas ávidas pelo poder. De concreto, o MDB não está nem aí para Simone Tebet, como não esteve para Ulysses e Quércia. Tenho a impressão de que os emedebistas sofrem de um mal crônico denominado garupa. Em outras palavras, isso quer dizer andar sempre nas costas alheias.