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Nossos amiguinhos

Sinais do além-mar cósmico trazem o milagre da vida em K2

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Autor/Imagem:
Marta Nobre - Foto Reprodução/Nasa

Foi uma terça-feira comum — dessas que passam despercebidas no calendário — quando os cientistas, com suas lunetas orbitais e cálculos imensuráveis, disseram o que muitos sonham desde o tempo em que se lia horóscopo nas estrelas: talvez não estejamos sós.

O planeta em questão tem nome de senha de Wi-Fi: K2-18 b. Não parece, mas ele é um colosso celeste: 8,6 vezes mais pesado que a Terra, com um diâmetro 2,6 vezes maior. Um irmão grandalhão, perdido a 120 anos-luz de distância, girando ao redor de uma estrela fria, do tipo anã vermelha — aquelas que queimam devagar, como vela de aniversário esquecida no canto da mesa.

E foi lá, nesse mundaréu gasoso e longínquo, que detectaram algo peculiar: dimetilsulfeto, uma molécula modesta que, por aqui, só se vê no rastro deixado por fitoplânctons — os minúsculos jardineiros dos oceanos terrestres. Junto a ela, vieram sinais de metano e dióxido de carbono. Não é o anúncio de uma civilização interplanetária nem a transmissão de um programa alienígena de auditório. Mas é o suficiente para deixar astrônomos com os olhos brilhando feito telescópios recém-lustrados.

Imagine um oceano escondido sob uma atmosfera exótica, com criaturas do tamanho de ideias — invisíveis, mas vivas. Quem sabe um tipo de vida que jamais entenderíamos, tão diferente quanto um peixe é de um pássaro, mas igualmente possível.

K2-18 b tornou-se, então, mais que um planeta. Virou espelho de nossa própria inquietação cósmica. Porque, no fundo, o que se procura não é só a vida além da Terra — mas a confirmação de que o universo é grande demais para conter apenas nossas dúvidas.

Ainda é cedo, alertam os estudiosos. Pode ser que tudo seja apenas química sem biologia, reações sem intenções. Mas há algo poético em imaginar que, enquanto discutimos política, pagamos boletos e assistimos a reality shows, do outro lado do espaço, um planeta respira — de algum modo — vida.

E se for verdade, mesmo que em parte, que existe algo lá fora, talvez um dia, em uma quinta-feira igualmente comum, a notícia chegue: “Eles também olham para o céu.”

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Marta Nobre é Editora-Executiva de Notibras

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