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Amor ao criminoso

Síndrome de Estocolmo lembra mal da corrupção

Publicado

Autor/Imagem:
Meraldo Zisman*

A vítima passa a sofrer, então, uma ilusão auto imposta, em uma tentativa de sobrevivência psicológica, além de física. E, a fim de reduzir o inimaginável stress de sua situação, começa a acreditar que o (a) torturador (a), agressor (a), carcereiro (a) é seu (ua) amigo (a), que não a matará, e que ambos podem se ajudar mutuamente…

A Síndrome de Estocolmo (Stockholmssyndromet, em sueco) é um distúrbio mental apresentado por pessoas que foram vítimas de sequestro ou de torturas. Expressão cunhada pelo psiquiatra e criminologista Nils Bejerot, que ajudou a polícia durante o assalto ao Banco Kreditbanken, ocorrido em 1973, na capital sueca.

Neste sentido, pela primeira vez, conseguiu-se registrar como o “Eu” da pessoa vitimada buscava se moldar a algumas características do sequestrador/torturador, como um mecanismo de defesa, ou, segundo explica a Psicologia, como uma expiação de culpas inconscientes.

A mídia destacava o fato de que, após o resgate, as vítimas, em seus depoimentos, pareciam simpatizar com os criminosos, destacando certas gentilezas recebidas da parte dos seus captores, que os mantiveram em cárcere privado, no interior de uma agência bancária cercada pela polícia, por mais de seis dias. Isto permaneceu como um fator inexplicável. Soube-se que uma das vítimas se casou com um dos assaltantes; e que, outro integrante do bando, durante a permanência no cárcere, recebia cartas apaixonadas de uma refém.

Trabalhos posteriores, sobre a relação de parceria/afinidade entre vítimas e agressores, ou seja, torturados e torturadores, passaram a ser pesquisados em outras condições, a exemplo de cenários de guerras, com sobreviventes de campos de concentração, indivíduos que foram submetidos à prisão domiciliar por parte de familiares, vítimas de abusos de diversas ordens, e mulheres e crianças submetidas à violência doméstica.

Como pediatra, muitas vezes, pude observar, na ocasião dos depoimentos, crianças e adolescentes que foram barbaramente agredidas pela mãe, pelo pai, ou por um adulto responsável por sua guarda, defenderem o/a agressor (a).

A corrupção é apenas uma ponta do iceberg que aflorou devido os avanços dos cruzamentos de dados armazenados graças à ciência da computação e não por vontades políticas.

Com o tempo, o(a) torturador(a) começa a parecer menos ameaçador(a), em outras palavras, aparenta ser, menos que de danos, mais um instrumento de sobrevivência e de proteção. A vítima passa a sofrer, então, uma ilusão auto imposta, em uma tentativa de sobrevivência psicológica, além de física. E, a fim de reduzir o inimaginável stress de sua situação, começa a acreditar que o (a) torturador (a), agressor (a), carcereiro (a) é seu (um) amigo (a), que não a matará, e que ambos podem se ajudar mutuamente.

Desse modo, as pessoas do lado de fora, que se esforçam para resgatar os reféns, parecem-lhes mais ameaçadoras que os próprios criminosos.

Esta síndrome, também conhecida como Vinculação Afetiva de Terror ou Traumática, não é reconhecida pelos dois manuais importantes da psiquiatria –o “Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders” (DSM, ou Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e o “International Classification of Diseases” (ICD, ou Classificação Internacional de Doenças).

Como se discute muito a cordialidade do brasileiro conferir: Sérgio Buarque de Holanda: O homem cordial. In: Raízes do Brasil: 26 ed. São Paulo: companhia das letras, 1995; receio que venhamos a fatiar/abrandar as sentenças dos verdadeiros culpados de corrupção muito embora não sendo ingênuo de acreditar que a situação nacional no presente tem muitas outras causas, além da corrupção.

A corrupção é apenas uma ponta do iceberg que aflorou devido os avanços dos cruzamentos de dados armazenados graças à ciência da computação e não por vontades políticas.

*Médico psicoterapeuta, recifense, cidadão do mundo

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