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A Fuga da Penitenciária

Sinfonia de engenho e desespero em busca da liberdade

Publicado

Autor/Imagem:
Amilcar da Serra e Silva Netto - Foto Francisco Filipino

No coração gélido da Penitenciária de Segurança Máxima, onde o aço e o concreto se erguiam como sentinelas imponentes, um plano audacioso, gestado na forja da inteligência e do desespero, começou a tomar forma. Três almas aprisionadas, condenadas a um destino de grades e alvenaria, uniram seus destinos em um pacto de liberdade. Anibal, o estrategista perspicaz, com a mente afiada como um bisturi, liderava a empreitada, tendo ao seu lado dois cúmplices, homens marcados pela fúria da lei, mas não pelo desânimo.

A prisão, um labirinto de pedra e metal, parecia intransponível. As celas, com seus pisos de concreto armado e paredes de alvenaria, erguidas sob o olhar implacável da justiça, pareciam desafiar qualquer tentativa de fuga. Mas a inteligência e astúcia de Anibal, como um farol que corta a escuridão da noite, iluminou o caminho para a liberdade.

O plano era ousado, uma sinfonia de engenho e audácia, uma dança complexa com a própria estrutura da prisão. Para alcançarem a liberdade, os três homens precisavam se unir em uma única cela, localizada no piso inferior do pavilhão II, e, para isso, teriam que abrir caminho através das paredes e do piso de concreto que os separavam, além de exigir que após transporem tais obstáculos ainda teriam que escalar um imenso muro que os separava do mundo exterior. Anibal, ciente das dificuldades a enfrentar, com a perspicácia e estratégia, dividiu a fuga em quatro movimentos, cada um com sua própria melodia de esperança e desespero.

O Ataque ao Concreto: Anibal, observando a rotina da prisão, percebeu que o fogareiro elétrico, por eles usado para preparar o café, poderia ser transformado em uma ferramenta fundamental para o plano. Ele sabia que a resistência elétrica do fogareiro, ao se aquecer liberaria calor para o concreto do piso quando em contato direto e que, por sua vez, provocaria uma expansão térmica local. Em seguida, a aplicação de água gelada, despejada sobre a superfície quase incandescente do concreto criaria um choque térmico, causando rápida contração. Esse ciclo repetido de expansão e contração, como um martelo que golpeia incessantemente, criaria microfissuras que enfraqueceriam a estrutura do concreto, levando ao seu desgaste progressivo.

Em outras palavras, Anibal, com a inteligência de um engenheiro, explorava a “fadiga térmica”, um fenômeno que, em contextos industriais, é cuidadosamente controlado para evitar falhas estruturais.

A Dança das Grades: No coração da oficina de manutenção da prisão, Anibal concebeu um plano ousado. Com a astúcia de um mestre ladrão, ele se apropriou de grades de ferro descartadas, abandonadas em um canto da oficina. No entanto, não as viu como sucata, mas como matéria-prima para uma ferramenta revolucionária.

Com a visão de um mestre artesão, Anibal transformou as grades em serras improvisadas, aplicando técnicas de dobragem para criar formatos helicoidais. A retorção das grades em espiral permitiu que elas se tornassem mais rígidas e estáveis, enquanto a afiação das bordas as tornou cortantes como um bisturi. A configuração helicoidal também permitiu que as grades fossem mais eficazes em cortar a alvenaria, pois a força de torção aumentava a pressão sobre a superfície de corte.

Com as serras improvisadas prontas, Anibal e seus dois cúmplices, trabalhando em lados opostos das paredes, aplicaram a força bruta necessária para fazer as grades cortarem a alvenaria. A técnica utilizada foi a de corte por compressão, onde a força aplicada em ambas as extremidades da grade gerou uma ação de cisalhamento sobre a superfície de corte, permitindo que a grade penetrasse a alvenaria.

À medida que as grades cortavam a parede, elas criavam um caminho para a união dos três prisioneiros, abrindo uma brecha na segurança da prisão. A “dança das grades” estava completa, uma dança de engenharia e habilidade que permitiu que os prisioneiros se comunicassem fisicamente através das paredes que os mantinham presos, mostrando a capacidade de Anibal em transformar materiais descartados em ferramentas inovadoras, e sua habilidade em aplicar princípios de mecânica para superar obstáculos aparentemente intransponíveis.

O Balé das Terezas: Com a criatividade de um inventor, Anibal concebeu uma antiga e criativa versão das “terezas”, cordas improvisadas usadas para escalar muros. Ele revestiu ganchos posicionados nas extremidades das cordas com tecido, reduzindo o ruído durante a operação.

Para superar o desafio da altura do muro, ele projetou hastes especiais, utilizando cabos de vassoura como base, que seriam montadas em pontos estratégicos do muro, evitando as áreas de visibilidade dos vigias. Mas as hastes precisavam ter mais de seis metros de comprimento, o que impossibilitava sua armazenagem nas celas.

Então, com a engenhosidade de um mestre da logística, Anibal encontrou a solução: canos de PVC, que permitiriam conectar os cabos de vassoura, criando as hastes na altura ideal, sem comprometer a segurança da operação.

A Sinfonia da Liberdade: O som da água gelada caindo sobre o concreto, como uma melodia fúnebre e o roças das serras improvidas, ecoava pelos corredores da prisão, sinalizando o avanço da fuga. Tal trabalho árduo emitia muitos ruídos e, para não despertar a atenção dos guarda enquanto trabalhavam, transformavam a cela em um palco de uma ópera de liberdade cantando diferentes melodias para encobrir o barulho. A cada pedaço de concreto retirado, a cada fenda na parede, a melodia da fuga se tornava mais forte, mais intensa, mais próxima do clímax.

Após semanas de trabalho incessante, o momento da verdade chegou. O piso da cela, enfraquecido pelo ataque do calor e do frio, cedeu, revelando o interior da cela inferior e a última parede foi rompida, não havendo mais obstáculos entre eles e o muro a ser escalado. Os três detentos, com os corações batendo forte, como um coro em uníssono, cumpriram a derradeira etapa do plano, escalando o muro e respirando o ar da liberdade, carregando consigo a marca da audácia e da engenhosidade. A fuga, uma sinfonia de desespero e esperança, havia alcançado seu clímax, provando que, mesmo no coração de uma fortaleza de pedra, a inteligência e a determinação podem vencer qualquer obstáculo.

A polícia, como um coro de fúria, logo se lançaria em sua perseguição, mas a melodia da liberdade já ecoava pelos campos, um hino à inteligência e à esperança, que ecoaria para sempre nos anais da Penitenciária de Segurança Máxima.

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