Reza a lenda que Deus criou o mundo em seis dias. O sétimo foi integralmente dedicado ao Brasil, particularmente a Brasília, onde tudo acontece e nada é produzido. Tudo ia mais ou menos até o dia em que um desavisado resolveu eleger, semântica e melodiosamente, Tim Maia como síndico de uma currutela chamada W-Brasil. Foi um dos maiores erros da enfadonha, mentirosa e sempre suposta política nacional. Tim partiu antes de mostrar Bons Momentos ao povo. Descobridor dos sete mares, ele certamente nos mostraria que o Azul da cor do mar está além do Leme e do Pontal. Mesmo Réu confesso, o síndico faria o Brasil viver tempos idênticos à Festa do Santo Reis.
Ele se foi sem nunca ter ido, mas deixou registrado nos anais de todos os brasileiros que todo castigo para eleitor é pouco. Fora Sebastião Maia, tivemos Velhos camaradas bem piores, mas que boa parcela da sociedade, também conhecida por eleitor, apostou, bancou e ainda hoje idolatra. Coisas do poder de Deus manipulado pelos homens de rabo e que a Imunização racional não conteve. De memória restrita a alguns livros de história, inclusive o seu, o Marimbondo de Fogo se queimou sozinho em decorrência das necessidades de agradar milicos, maranhenses, turcos e baianos. Sua comemorada saída abriu caminho para a mosca azul do Cerrado que, fantasiada de lorde pasteurizado, às vezes de caçador de marajás, afundou de corpo e alma no maravilhoso litoral das Alagoas.
Era Um dia de domingo. Em substituição ao Padre Cícero alagoano apareceu um café com pão de queijo, cujos sabores reais agradaram, mas duraram menos do que o povo esperava. No Parlatório, diante da mineirada, ele foi claro: Não quero dinheiro. Por isso, Não vou ficar. Neto de general, o mulatinho aproveitou a Primavera e o Real e fincou raízes oitocentistas. Que beleza. Está difícil esquecer. Saído do brejo nordestino, surgiu um sapo destinado a virar príncipe. Se perdeu pelo caminho e não virou. No entanto, sua marca popularesca já lhe rendeu três reencarnações e, se nada mudar, renderá mais uma. Acendam o farol.
Dilma Vana, a mesma “Joana d’Arc da subversão” ou a “Papisa da Guerrilha” fez o jogo errado e acabou defenestrada pelo Mordomo de Filme de Terror, apelido carinhoso dado pelo titio Antônio Carlos Magalhães, o Toninho Malvadeza da Bahia de Todos os Santos. Menos ele, é claro. Saiu o estagiário do terror e entrou todos os tons do pavor: Você. Paixão antiga de muitos, o Coroné Antônio Bento, mito sem cajado, sem Sossego e, ainda que injustamente, foco de todos os incêndios, o homem do siricutico golpista literalmente tocou fogo no parquinho. Obviamente que ele também foi chamuscado. Se queimou, perdeu o brilho, mas continua ufanista de si mesmo e de uma pátria que vem celeremente ajudando a destruir. Abandonou a política de ideias e de consenso e apostou no oposto disso: a violência física e verbal contra os oponentes.
E o povo? Diz a mesma lenda que, ao criar o mundo, Deus negociou com o restante do planeta eventuais vantagens e desvantagens para o Brasil. E Ele teria dito a um de seus apóstolos mais patriotas: Me dê motivo para ser diferente. Então, ficou acertado que o país não teria terremotos, maremotos, vulcões, tornados, tufões, tsunamis ou qualquer outro fenômeno natural devastador. Seria puro, belo e inocente como a flor. Seria, mas nunca foi. A contrapartida veio na forma humana. Como compensação, o Mestre prometeu aos demais habitantes da Terra que colocaria no Brasil cidadãos de variadas nuances qualitativas e putativas, alguns ou a maioria disposta ao Vale tudo. No Meu país, grande parte seria boa e honrada. Também teriam os ingênuos, os provocadores, os antiéticos, os bárbaros, os depredadores, os fanáticos e, sobretudo, os vândalos truculentos.
Sobre os políticos, a lenda é bastante cruel. O Congresso e os demais parlamentos seriam piores do que a Rodésia. Conforme o acordo entre Deus e a população cumpridora de leis, a gentalha, a escumalha e a escória da sociedade seriam denominadas políticos. São os seres da Rational Culture, mas que raciocinam somente até onde lhes convém. Por isso, reza a lenda que não devemos acreditar em palavras vãs. Elas derretem como Chocolate e costumam iludir as pessoas. Apesar do nível rasteiro a que chegou a política brasileira, reza a lenda que, sem o perdão de Xandão, o X é coisa do passado. Igualmente os síndicos ruins. Que Pablo Marçal e similares sigam o mesmo caminho do fim. O povo brasileiro nasceu para ser feliz. Também reza a lenda que lá no fim do arco íris tem um tesouro conhecido por paz. Quer queira, quer não queira, deixe de lado o zero a zero e, sem baixaria ou agressões, alcance o tão sonhado um a um. Um dia ainda encontraremos Essa tal felicidade.
*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras