Visita ilustre
Socó se aconchega em privê nordestino e toma posse como se dele fosse o dono
Publicado
em
O registro foi nesse sábado, 22, morno, daqueles dias em que o tempo no Nordeste parece se espreguiçar junto com a maré. O “Privê Paraíso do Mar” faz jus ao nome — coqueiros balançando preguiçosamente, o som ritmado das ondas, e o sol dourando tudo como se fosse moldura de cartão-postal.
Estávamos todos à beira da piscina, divididos entre a conversa fiada e o silêncio bom que só os lugares de descanso sabem oferecer. Foi então que ele chegou. Era um socó. Não sei de onde veio, talvez dos mangues aqui perto ou de alguma maré que o empurrou ao descanso.
Pousou com elegância, como se tivesse reserva marcada. Caminhou pela borda da piscina com o ar de quem está avaliando o local, ou talvez julgando o gosto duvidoso da música ambiente. Os moradores, distraídos, demoraram a notar. Mas, aos poucos, olhos se voltaram para o pequeno visitante de penas acinzentadas e olhar desconfiado.
O socó não se intimidou. Apreciou o lugar como quem está acostumado com luxos. Bicou a água da borda, olhou o horizonte, talvez pensando se valia a pena ficar por ali. Um garotinho tentou se aproximar, mas a ave, com dignidade de rei em viagem, alçou voo baixo, pousando mais adiante, perto das pedras que margeiam o terreno.
Ficou ali um tempo, observando. E, como veio, partiu. Sem pressa, sem alarde. Apenas deixou no ar a leve impressão de que, por um breve instante, aquele pedaço de paraíso fez-se ainda mais bonito.
Naquela tarde, o assunto não foi o drink novo do bar, nem o mergulho nas águas mornas. O assunto foi o socó. Porque tem visitas que vêm sem avisar, mas deixam lembrança de morador antigo.
