A despeito da enorme corcunda por conta de tanto se curvar para conversar com os outros, Elisberto, ainda assim, era bem mais alto do que a grande maioria das pessoas. Um gigante, que poderia ter saído de um conto de terror. Não pela maldade, já que o coração daquele homem desejava fazer somente o bem. Era por conta daquela aparência pouco agradável, cujos olhares mais corajosos eram logo desviados, tamanha a feiura.
Suas pernas e braços eram tão longos, que, caso ele tivesse mais quatro membros, poderia ser confundido com um gigantesco polvo. O andar parecia o de um camelo desengonçado. como se já não bastasse que todos já o fossem sem qualquer esforço. O nariz, adunco como o de uma ave de rapina, poderia até tocar o queixo, caso este não fosse tão pontiagudo.
Elisberto, apesar de conviver com aquela aparência há algumas décadas, andava cada vez mais ranzinza com as pessoas ao redor. Não que fosse violento, pelo contrário. Mas também não era uma mosca morta nem tinha sangue de barata. Se bem que ele acabou desenvolvendo certa cumplicidade com este último inseto.
Pois é, lá estava o Elisberto no cachorródromo do Tesourinha, no agradável bairro Menino Deus, em Porto Alegre. Ele estava acompanhado do seu inseparável vira-lata, o Popoco. Nisso, chega a Filisteia, que trazia na coleira a Lili, uma poodle cheia de pompons. Uma lindeza só!
Filisteia soltou a sua cadela, que correu para brincar com o Popoco. O cachorro, apesar de castrado, resolveu se engraçar todo para o lado da poodle. Pura conjectura de que algo impossível pudesse vir a acontecer.
Tudo parecia como mais uma manhã agradável, até que, de repente, uma enorme barata passou perto dos pés da Filisteia. A mulher soltou um grito tão agudo, que a Lifi e o Popoco pararam a brincadeira. Elisberto, que estava a poucos metros, logo percebeu o motivo de tal grito, mas nada fez. Ele apenas acompanhou o caminho da barata, talvez voltando para o lar, doce lar.
Filisteia, então, intimou o Elisberto a matar aquele ser repugnante. O homem, a princípio, ignorou os apelos da mulher, que insistiu para que ele tomasse uma atitude. Nada! Ele não moveu uma palha sequer.
– Não sabia que você tinha medo de barata, Elisberto.
– Não tenho.
– Então, por que não esmagou esse barata asquerosa?
– Porque tenho pena delas.
– Mas as baratas são nojentas!
– Nojentas são as formigas, que andam pelos lixos. Mas todos amam as lindas formiguinhas. Ninguém gosta das baratas, que são feias. Sei bem como é que elas se sentem! Além disso, as baratas me livram dos percevejos.