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Lembrança de infância

Soldado decapitado traz lembrança da revoltante lei do mais forte

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Autor/Imagem:
Hannah Carpeso - Foto Francisco Filipino

Quando menino, minha maior alegria era ganhar um conjunto de soldadinhos que na época do meu avô eram de chumbo.

Vovô sempre gostou do exército e, nas datas festivas, sempre me presenteava com um batalhão – a mais.

Assim formei meu exército brasileiro particular.

Elegia os meus generais, meus coronéis e sargentos. Cheguei até a colorir estrelinhas na cabeça já que nos ombros e braços não se destacariam.

Os demais, soldados rasos, eu os colocava sempre juntos para que pudessem se proteger de alguma hierarquia que abusasse de sua autoridade.

Sim, porque em algum momento em que eu me sentia bravo com meus pais, eu descontava nos pobres soldados.

Um dia, fiquei tão bravo com minha mãe que exigia que eu comesse todos os brócolis, que depois de vomitar, corri para o meu exército e arranquei a cabeça de um pobre soldado.

– Por que o soldado?

Porque os estrelados significavam meus pais e eu devia por lei – obediência.

Hoje, entendo a lei do mais forte.

Ainda guardo o meu exército no estojo.

Ainda tenho o soldado decapitado como lembrança.

Entendo o erro cometido. Entendo a obediência.

Contudo ainda me revolto com a lei dos mais fortes.

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