Brasília não se resume ao Congresso Nacional. Muito menos à agenda negativa fomentada por escândalos de corrupção na Esplanada dos Ministérios e Palácio da Alvorada. A cidade planejada que surgiu das habilidosas mãos de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, é mais do que isso. E tem como mostrar – para os públicos externos, no caso o Brasil e o exterior, e mesmo para o próprio brasiliense -, o que é e a que veio. A ferramenta a ser usada é o turismo. E o operador dessa máquina atende pelo nome de Jaime Recena.
Para uma cidade nova, nada melhor do que entregar nas mãos de alguém jovem a missão de resgatar a imagem de Brasília. A escolha do governador Rodrigo Rollemberg uniu o útil ao agradável, ao colocar na Secretaria de Turismo Jaime Recena. Ainda que no meio de uma crise política e financeira, o secretário vem estudando nos cinco meses em que está no cargo, projetos para limpar a imagem da capital da República e alavancar o turismo, em especial nos fins de semana.
Mudar o conceito de Brasília, tão negativado por causa da corrupção nascente do Congresso Nacional e dos próprios políticos da capital, como no escândalo da Caixa de Pandora, que teve projeção nacional, é o grande desafio que aguarda Jaime Recena, revelado em entrevista a Notibras. Mas o objetivo, ele promete, vai ser alcançado. E logo – prevê – o brasiliense terá orgulho de bater no peito e dizer, sem constrangimentos, que é filho – nem que seja por adoção – da capital de todos os brasileiros.
– É como querer macular a imagem do Rio de Janeiro com o problema da Petrobras, da Lava Jato, do Petrolão. Isso não transforma os cariocas em corruptos. A gente tem que aprender a separar o joio do trigo e isso cabe a nós. Falta ao brasiliense conhecer a cidade e vestir a camisa de Brasília, compara o secretário.
Uma das prioridades de Recena é a revalidação do Projeto Orla, que foi iniciado por Rodrigo Rollemberg, quando o hoje governador ele era secretário da área, no governo de Cristovam Buarque. O princípio básico dessa proposta é democratizar o uso do Lago Paranoá. E a ideia é ter pelo menos quatro polos margeando o espelho d’água que serve de retrato de Brasília para o Brasil e o mundo.
Mas em época de bolso vazio do governo, a alternativa mais viável e provável, aponta Jaime Recena, é uma Parceria-Público-Privado, as chamadas PPPs. Embora sem estipular prazo inicial das obras ou mesmo a inauguração, o secretário acredita, e trabalha para isso, que toda a proposta esteja implantada até o final do governo de Rollemberg.
Também está na lista de prioridades da Secretaria de Turismo transformar o Parque da Cidade em um Central Park, famoso e mundial espaço verde no coração de Nova York, ou em um Ibirapuera, encravado no meio da selva de pedra dos paulistanos. Apesar de ousado, o plano para isso já começou. “Estamos fazendo todo o levantamento de documento e fazendo estudo da real situação do parque, como nas questões das concessões. Em paralelo, estamos fazendo ações coordenadas de manutenção”, explica o secretário.
A Secretaria de Turismo, em parceria com a Secretaria de Gestão, tem realizado estudos de uso e ocupação do parque, com a delimitação de áreas passíveis de concessões. Logo depois serão discutidos os projetos a serem implantados. O Parque da Cidade tem recebido uma intensa agenda, mas continua, segundo Recena, sendo um potencial turístico pouco explorado.
E como fazer para mudar esse cenário, quando a violência é o que afugenta seus frequentadores? Recena responde sem titubear: “Trouxemos para dentro do parque a policia montada para melhorar a segurança. O parque vai se tornar cada vez mais seguro, quando houver ocupação noturna. Estamos trabalhando para isso. Para lá se deslocam muitos moradores de rua, e precisamos estar atentos à questão social”, sublinha.
Na visão de Recena, é preciso mostrar para os brasileiros uma Brasília que o País ainda não conhece. “Hoje o turismo é fundamental para a cidade. É a forma mais rápida de gerar emprego e renda. Brasília tem um potencial muito grande para a gente explorar, principalmente em relação a eventos e turismo de negócios. Brasília tem o segundo aeroporto mais movimentado do Brasil e o terceiro polo gastronômico”, descreve.
O secretário lembra que já há algum tempo, Brasília se tornou um ótimo destino de grandes shows nacionais e internacionais. Quem se hospeda nos hotéis do Distrito Federal, quando sai, sempre coloca na “caixinha de sugestões e opiniões” que estão satisfeitos.
E para fazer o “elefante branco” andar, ou melhor, o Mané Garrincha funcionar, Recena tem viajado a vários estados. Nos últimos dias, por exemplo, se sentou com o presidente do Vasco, Eurico Miranda, para trazer mais partidas do time para cá. O Flamengo já solicitou duas datas, mas ainda sem definições. E o São Paulo também já demostrou interesse.
Assim, Jaime Recena, importante braço político de Rollemberg, tenta mostrar ao País que Brasília, além de ser a capital de todos os brasileiros, é um museu a céu aberto que precisa ser venerado todos os dias. E, claro, que ele, como de resto todos os brasilienses, devem estar prontos, para inflar os pulmões e dizer que Brasília passa ao largo da imagem que se pretende mostrar de uma cidade corrupta, o que não é verdade.
Elton Santos, com a colaboração de José Seabra