Solução para a crise da água pode rachar grupo de ambientalistas
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emO sistema Cantareira voltou a operar abaixo de 10% de sua capacidade. Para garantir a continuidade do abastecimento, a Sabesp continuará a retirar água do volume morto da represa Jaguari-Jacareí e tem planos de utilização dos volumes mortos das represas Cachoeira e Atibainha, na região de Mairiporã e Nazaré Paulista.
Para a ANA (Agência Nacional de Águas), a água no sistema deve durar até novembro deste ano. Já para o governo estadual, o volume morto irá garantir o abastecimento até março. Independentemente do acerto dessas previsões, o fato é que se no próximo verão não houver chuvas significativas, a crise hídrica deste ano se repetirá em 2015.
No longo prazo, além de medidas para o uso eficiente dos recursos hídricos e de reúso, a forma de resolver esse problema de forma definitiva é investir na construção de um novo sistema de transposição das águas do rio Juquiá, afluente do rio Ribeira do Iguape na vertente oceânica da Serra do Mar.
Esse sistema teria potencial para fornecer até 80 m³ de água por segundo para a região metropolitana. A demanda atual de água na Região Metropolitana de São Paulo é de 70 m³ por segundo.
Além de investimentos pesados, será necessária uma analise ambiental integrada e colocar a segurança hídrica como prioridade. Segurança hídrica existe quando todos, de forma contínua, têm acesso à água em quantidade e qualidade suficientes para atender às suas necessidades básicas (alimentação, saúde, higiene) e para desenvolver suas atividades econômicas, mantendo ainda o ecossistema aquático saudável e equilibrado.
Segurança hídrica implica também garantir o uso múltiplo da água (abastecimento humano e industrial, irrigação, energia e transporte) e uma infraestrutura adequada para reduzir os riscos de catástrofes climáticas.
Um tema central da segurança hídrica é o armazenamento da água em reservatórios, que possibilitam aumentar a resiliência do sistema à variabilidade e às mudanças do clima. Analisando o problema do ponto de vista do território nacional, no qual as hidrelétricas desempenham papel central na segurança socioeconômica, o armazenamento é crucial. Um exemplo é a performance energética do complexo hidrelétrico de Belo Monte, na Amazônia.
Por falta de um reservatório de acumulação de água, a futura hidrelétrica irá trabalhar com um fator de capacidade muito baixo. O fator de capacidade é a relação entre a potência elétrica instalada e a potência média de geração ao longo do ano. No caso de Belo Monte, este número está estimado em 0,39.
Um fator normal para hidrelétricas é da ordem de 0,60. Vale lembrar que Belo Monte operará pouco acima do fator de capacidade médio das usinas eólicas do país que, em 2012, foi de 0,33. Ou seja, investiu-se muito para obter pouco. Faltou reservatório.
Outro exemplo é a situação crítica de abastecimento de água no Nordeste. Enquanto a média brasileira de reserva per capita é de 3.000 m3/hab/ano, na região esse valor cai para menos de um terço da média (900 m3/hab/ano). Só para comparar, a Austrália, que recentemente superou uma seca de quase dez anos de duração, tem uma reserva de 5.000 m3/hab/ano.
Embora os dois exemplos acima mostrem a importância de se ter reservatórios, foi a escassez de água em São Paulo que colocou o tema da segurança hídrica na pauta dos grandes problemas.
O que se espera agora é que as autoridades de governo e a sociedade em geral tirem dessa crise a lição de que segurança hídrica passa, obrigatoriamente, pela construção de novos reservatórios. E isso precisa, muitas vezes, estar acima de interesses de grupos ambientais radicais.
Benedito Braga