Curta nossa página


mulher no cavalo branco

Sonho de Hollywood de Ataliba acaba no cemitério

Publicado

Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Igor Matheus Santiago

Ataliba não conseguia se esquecer daquela mulher maravilhosa que conheceu há tempos. Não sabia exatamente se ela era real ou, então, fora simplesmente um sonho que havia sonhado em mais um momento durante a hora de almoço no trabalho. Na verdade, pelo que se lembrava, ela surgiu montada em um lindo cavalo branco, bem lá naquelas colinas do entorno do Paranoá. Todos ficaram boquiabertos com aquela figura tão esplendorosa, que poderia muito bem ter saído de uma tela de cinema. Talvez tenha sido isso mesmo, já que Ataliba amava os clássicos hollywoodianos dos anos 1950.

Decidido a decifrar tal enigma, remexeu a ampla estante repleta de vídeos antigos. Espanou o velho videocassete. A poeira lhe causou uma tosse quase instantânea. Recomposto, conectou os fios à televisão. Passou todo o final de semana numa busca frenética por aquela mulher. Nada!!! Não havia Grace Kelly, Ingrid Bergman, Sophia Loren nem Elizabeth Taylor que pudesse substituí-la.

Na segunda-feira, as olheiras o acompanharam até o trabalho, e com ele permaneceram até sexta. Mal conseguiu prestar atenção ao serviço. Todavia, ninguém pareceu notar, pois todos estavam entretidos com suas tarefas. Talvez apenas Heloísa, a moça da copa, tenha percebido, já que Ataliba mal tocou nos inúmeros cafezinhos deixados em sua mesa.

Voltou para casa o mais rápido possível. Caminhou sem se dar conta de que havia esbarrado em pelo menos duas pessoas durante o trajeto. Uma o xingou, é verdade. Não se sabe se percebeu que tal injúria era para ele ou, então, simplesmente a ignorou, pois tinha uma missão a cumprir. Descobrir quem era aquela mulher havia se tornado uma obsessão.

Dezenas de filmes mais. Nada!!! Nenhuma imagem da sua amada. Sim, Ataliba agora tinha certeza de que amava aquela mulher. A paixão era o único sentimento que o impulsionava nessa busca incessante. E foi assim pelos próximos meses. A mesma rotina.

Ataliba havia perdido alguns quilos. Mal sentia o gosto da comida, às vezes até se esquecia de se alimentar. Já nem se preocupava em fazer a barba, pentear os cabelos. A roupa amarrotada, a mesma que havia lhe feito companhia na última sexta-feira, lhe conferia o aspecto de desleixado. As olheiras completavam o cenário, que agora parecia de pura frustração.

O homem adormeceu. A encantadora mulher, montada no lindo cavalo branco, finalmente surgiu bem diante dos seus olhos. Ela abriu o mais belo sorriso que Ataliba havia visto. Que emoção!!! O seu coração acelerou como nunca. Parou! Seu corpo só foi encontrado depois de quase uma semana. Os vizinhos começaram a reclamar do fedor vindo do apartamento daquele homem solitário.

Publicidade
Publicidade

Copyright ® 1999-2024 Notibras. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, Agência UnB, assessorias de imprensa e colaboradores independentes.