Brasileiros residentes em Portugal estão vivendo momentos de angústia e constrangimento. Nomes, só fictícios. Até porque, como as relações entre Brasília e Lisboa ficaram apimentadas antes de um azedo almoço (diz-se que cancelado) entre os presidentes Jair Bolsonaro e Marcelo Rebelo de Sousa, dar a cara a tapa é perigoso, pois (pois) os riscos de retaliação são muitos.
Um exemplo é o publicitário Ivan Guaranás, que investiu €5.000.000,00 (mais de 25 milhões de reais) em imóveis na cidade de Lisboa, onde vive há mais de seis anos. Palavras dele, portador de um Golden Visa:
“Fiz uma viagem a Roma para tratar de negócios e ao voltar, fui barrado no guichê da TAP e ameaçado de deportação para o Brasil. Mesmo informando que minha casa, meu lar era em Portugal!”
Em função do documento de residência vencido por inoperância das autoridades portuguesas, Guaranás foi salvo por um funcionário brasileiro, “tendo em vista que os atendentes terceirizados da cia aérea estatal lusa, no aeroporto internacional de Fiumicino, nem português falavam, pasmem!”
Por sorte, o apelidado refrigerante tupiniquim conseguiu embarcar no último minuto, sendo observado com desconfiança por outros passageiros.
Já a empresária Marta, que investiu há quatro anos junto com seu marido no ramo de restaurantes, gerando mais de trinta empregos diretos, se viu frustrada pelo fato de seu filho adolescente ter tido negada a participação no programa de intercâmbio ERASMUS, “algo bem comum no verão europeu para estudantes de várias nacionalidades”, diz ela.
Hoje, o filho, que está em tratamento psicológico, além de querer voltar para o Brasil, pelo bullying e xenofobia devido ao caso, “não quer mais sair de casa, é dramático”, pontua Marta.
Estas são umas das estórias de pelo menos centenas de brasileiros, e milhares de outros aí de além-mar, que vivem verdadeiros pesadelos depois de terem apostado milhões de euros em investimentos em Portugal.
A situação, cruz credo, não para por aí. Todos são uníssonos em dizer que ao investirem vultuosas quantias na reabilitação imobiliária do país, além de pagarem altos impostos e gastarem muito em várias gamas de serviços, veem nitidamente a evolução de um país pobre se transformar em um dos principais destinos turísticos do planeta. E lembram como os imigrantes empreendedores no Brasil sempre foram acolhidos com seriedade.
O certo – pois pois, de novo -, é que brasileiros endinheirados estão passando por essa situação vexatória. O clima de insegurança entre os imigrantes que vão para suprir trabalhos braçais que os portugueses não querem mais fazer, hoje se sentem inseguros e subjugados por terem vistos precários de trabalho.
Essa é a conversa dominante nas estreitas ruas históricas de cidades portuguesas. Fala-se em voz tão alta, que nem os ‘Vivas El Toro’ da capital espanhola, bem distante, conseguem abafar. Para muitos, a esperança está na volta da sensibilidade de Marcelo Rebelo de Sousa, que tinha os avós, os pais e agora filhos e netos imigrantes no Brasil.
Se realmente não rolar o almoço, que haja ao menos vatapá. Quem sabe se, conversando, chegue-se de novo a um ‘porto seguro’.