Esperava ansiosamente pela atenção de minha mãe. Queria que ela olhasse as unhas dos meus pés.
Depois de um certo tempo, ela finalmente chegou. Eu já me encontrava sentado numa cadeira, os pés levantados sobre outra. Então ela veio e começou a trabalhar, dedicada e amorosamente, as unhas dos meus pés. Depois de determinado tempo, afastou-se.
Percebendo a demora, chamei-a.
Então ela disse:
— O que foi, meu filho?
E eu lhe respondi:
— A senhora não vai terminar?
Ao que ela afirmou:
— Eu já terminei.
— Desculpe, pensei que estivesse descansando, ponderei.
Então levantei-me para lhe agradecer, beijando sua face direita.
Minha mãe era uma mulher alta, esbelta, cabelos castanhos. Usava um vestido longo, claro, com estampas florais suaves.
Então ela se movimentou, ficando de pé ao meu lado. Entendi que queria mais um beijo. Então a beijei novamente, desta vez na face esquerda, de pele alva.
Isso feito, encaminhei-me para o meu quarto, encontrando no caminho o meu sobrinho Aírton, cantando a plenos pulmões a canção antiga de Tonico e Tinoco, Chico Mineiro, que dizia:
Fizemos a última viagem
Foi lá pro sertão de Goiás
Fui eu e o Chico Mineiro
Também foi o capataz…
Sem interromper, sorri para ele, apontando o indicador para baixo, rente ao chão, para dizer-lhe:
— Você tirou essa lá do fundo do baú!
E com isso, eu me acordei. O meu sonho acabou. Mas fiquei feliz com o reencontro.
Minha saudosa mãezinha, Dona Otília, faleceu há 44 anos, em 1977. Aírton é o segundo neto de minha mãe.