Eu a conheci em outubro de 2001, quando fui transferido para o DEREG, que era um depósito do Banco do Brasil localizado bem na entrada da favela Kelson, na Penha Circular, um bairro do Rio de Janeiro. Não me recordo exatamente como foi, mas lembro que ela se aproximou e, muito simpática, me deu as boas-vindas. Ela me lançou aquele sorriso e, assim, me disse que se chamava Neném. Muito tempo depois, soube que o seu nome era outro: Sonia Clair.
Apesar de trabalharmos no mesmo setor, praticamente não tínhamos muito tempo para conversar, já que eu passava a maior parte do expediente dentro do escritório, enquanto ela ficava na parte da conferência dos materiais que seriam despachados para as diversas dependências do Banco do Brasil espalhadas pelo país. Todavia, isso não foi empecilho para que, de vez em quando, trocássemos um “Oi! Tudo bem? Como vai?”
Depois de algum tempo, voltei a morar em Copacabana, mesmo bairro onde a Sonia residia. Então, logo em seguida, pegamos o mesmo ônibus de volta para casa. Eu havia entrado primeiro, mas não a tinha visto até que ela, esbaforida, também subiu os degraus do coletivo. Eu a cumprimentei quando ela ainda estava na roleta pagando a passagem. No entanto, para a minha surpresa, ela não se sentou ao meu lado, mesmo o lugar estando vazio. Ela se sentou na outra fileira de cadeiras, quase na mesma direção. Eu lhe perguntei por que não se sentara comigo. Ela apenas sorriu, meio constrangida talvez. Eu me levantei e fui me sentar ao lado dela, já que o assento ao lado também estava vago.
Fiz-lhe a mesma pergunta, quando ela finalmente me respondeu que nem todos os colegas gostavam de ficar na companhia dela fora do banco. Essas palavras me fizeram sentir vergonha dessas situações horríveis da vida. A sociedade, muitas vezes, nos torna hipócritas, pois nos faz insistir em comportamentos deprimentes.
Eu, que já admirava a Sonia, naquele momento quis ser seu amigo. Não sei se consegui, mas fiz questão de enaltecê-la sempre que estávamos juntos. Inclusive depois de alguns anos, quando saí do Banco do Brasil e me mudei de cidade.
Quando voltava ao Rio, sempre perguntava por ela e, quando tínhamos sorte, a encontrávamos. E, numa dessas viagens, a minha esposa, a famosa Dona Irene, acabou conhecendo a minha amiga. Lembro-me muito bem desse dia, quando ela se apresentou: “Prazer, Sonia!” A minha esposa, assim como grande parte das pessoas que tiveram o enorme prazer em conhecê-la, ficou encantada com a Sonia. Aliás, Sonia Clair!!! Mulher!!! Preta!!! Poderosa!!!