De tão barriguda que estava, a mulher se deitou naquela grama verdinha típica da primavera e, usando toda a força que até então nem supunha ter, pariu ali mesmo uma menina, que já nasceu olhando para o céu quase totalmente azul, caso não fossem por algumas nuvens que, de tão branquinhas, poderiam facilmente se passar por chumaços de algodão soltos no ar.
Mesmo sem um dente sequer, a moleca sorriu um sorriso de alegria. A mãe a acolheu nos braços e lhe ofereceu o peito, que foi sugado. Todavia, os olhos, quase cegos, continuavam vidrados naquela imensidão lá em cima.
Não tardou, uma pequena multidão se aproximou. Uma mulher, talvez mais experiente, tocou o ombro da parida, que lhe fitou com aqueles imensos olhos escuros.
– Você está bem, minha filha?
A mãe de primeira viagem sorriu. Em seguida, alguém a ajudou a se levantar e a encaminharam ao hospital. Mal entrou, a menina começou a chorar. A mulher tentou lhe dar o peito novamente, mas nada a consolava. O choro ecoou por todo aquele ambiente.
Uma médica foi chamada. O choro corria solto, a mãe desesperada. Corre-corre daqui, corre-corre dali, foram levadas para um consultório. A doutora auscultou, apalpou, apertou, soltou, virou, colocou de ponta-cabeça… Nada!!! O choro perene angustiava aquela mãe, que, também chorando, foi posta no canto, bem junto à cortina.
Não se sabe o por quê, talvez ansiosa para buscar um alento, a mãe abriu a cortina e, quase instantaneamente, a menininha voltou a sorrir. Os olhos miúdos fixos naquele oceano lá no alto. Aliviada, a mãe a tomou no colo e voltou a lhe oferecer o peito. Ela mamou, mamou, mamou… Até que, tomada por Morfeu, adormeceu.
Instintivamente, a mãe saiu do hospital naquele momento. Já em casa, colocou a filha, que ainda dormia, no berço bem ao lado da janela. Arrancou a cortina e, exausta, desmaiou ali mesmo naquele tapete felpudo.
A noite mal chegou, a mulher acordou assustada, como se tivesse tido um pesadelo. Qual sua surpresa ao perceber sua garotinha sorrindo para as estrelas. Com um leve toque de suas mãos macias, a mãe tocou a testa da sua menina e disse.
– Não sei o que você tanto olha lá pra cima, meu amor. Talvez um dia você me conte.