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Sorvete que desce macio também pode engasgar

Raimundo cresceu analfabeto e, já perto dos 40, caso não fosse por Marília, continuaria alheio às letras. Amigou-se não somente com estas, mas com a mulher. Gostou tanto, que logo estava formando sílabas, palavras e arriscando uma frase inteira aqui, outra ali. Não tardou, chegou aos períodos.

O homem, fazendo jus ao nome, ganhou o mundo. Lia as placas, os letreiros. Fazia questão de decifrar qualquer enigma por detrás daquele amontado de letras. No geral, se saía muito bem, para orgulho de Marília, que era formada em Letras.

– Muito bem, meu amor! Daqui a pouco você vai completar o ensino fundamental.

A despeito de tamanho esforço para aprender tanto em pouco tempo, Raimundo, de vez em quando, tropeçava nas palavras. E foi assim naquela manhã de domingo, quando ele passeava de mãos dadas com a amada. Diante de uma sorveteria, um enorme cartaz anunciava a vastidão de opções: Buffet de Sorvetes. No entanto, apesar das súplicas de Marília, que queria se refrescar com uma casquinha, o homem declinou.

– Mas por quê?

– Marília, sou da paz. Esse negócio de bofete não é comigo.

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