Cresci nos anos 1970 e 1980, quando o rock and roll ainda era o grande ritmo que embalava boa parcela da população. Obviamente que havia o samba, a bossa nova, a MPB, mas o rock era a grande estrela nas mentes dos jovens. Falar algo assim hoje em dia talvez pareça estranho, ainda mais depois que ouvi, há alguns anos, que um colega de trabalho não gostava de rock.
Aliás, ele, que estava conversando com outros funcionários, foi até bem específico em relação a um artista: “Odeio o Raul Seixas!” Isso soou tão sem sentido para mim, mas continuei sem participar desse debate. Simplesmente mantive os olhos na tela do computador, simulando que estava lendo algo.
No entanto, a história que vou contar aconteceu em 2006, quando The Rolling Stones se apresentaram para mais de um milhão de pessoas nas areias da praia de Copacabana. Pois bem, lá estávamos a minha filha e eu. A multidão era tamanha, que, durante alguns momentos do show, tive que colocá-la nos meus ombros. Ela adorou a situação, pois era uma garotinha de nove anos curtindo umas das maiores bandas de rock da história, composta por aqueles músicos que embalaram boa parte da minha vida.
Foi legal. Gostei. Mas sem exclamações. Não sei se os Stones estavam cansados de tocar as mesmas coisas durante muitos anos ou, então, eu que já não fazia parte daquela plateia. Tudo me pareceu tão artificial, extremamente técnico, mas não disse isso para a minha filha, pois ela estava tão eufórica… Tanto é que, logo após os Stones cantarem “Satisfaction” e se despedirem, a minha filha quis telefonar para a minha mãe. Achamos o primeiro orelhão.
— Vó, advinha quem a gente viu agora?
— Não faço a menor ideia. Quem?
— Os Stones, vó!
— Ah, que legal.
— Os Stones são bem legais, vó!
— É, eles são legais. Mas o Elvis é bem melhor!
A minha filha depois me falou o que a minha mãe tinha dito. Provavelmente, o Elvis fosse mesmo melhor. Não sei. Mas, algum tempo depois, presenciei o maior show da minha vida, quando vi uma apresentação do Alceu Valença. Posso afirmar, e que me desculpem os Stones, mas o Alceu me fez acreditar, ali na lona de Vista Alegre, que ele é bem melhor.
*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.
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