O Porto de Mariel, em Cuba, pode virar cenário de uma nova ‘Crise dos Mísseis’, quando a então União Soviética, a pedido de Fidel Castro, deslocou mísseis intercontinentais para a ilha localizada no quintal dos Estados Unidos. O ano era 1962. Hoje, motivos de preocupação não faltam: nesta quarta, 12, aporta na ilha caribenha uma pequena frota da Marinha russa. São navios de guerra e um submarino nuclear. Oficialmente, trata-se de uma ‘visita’ de camaradas.
O deslocamento dessas armas dos mares é uma resposta de Moscou a Washington e seus aliados europeus, que insistem em abastecer Kiev com armas cada vez mais potentes. A tensão cresceu a partir do momento em que a Otan decidiu fixar mísseis intercontinentais na Polônia, numa suposta dissuasão para que os russos não acabem com a Ucrânia de vez.
A chegada dos navios russos foi confirmada pelo Ministério das Relações Exteriores de Havana. Serão lançadas âncoras da fragata Almirante Gorshkov, que transporta um número indeterminado de mísseis com ogivas nucleares. Sob as águas, estará o submarino nuclear Kazan. Dois navios cargueiros e de manutenção também fazem parte do ‘passeio’ pelos mares do Caribe. A visita se estenderá até o dia 17, tempo suficiente, segundo analistas militares, para o desembarque de todo tipo de armamento pesado.
A esquadra, segundo o comandante-em-chefe da marinha russa Alexander Moiseyev, atracará em Cuba como parte de um programa de parceria internacional. “No dia 12 [de junho], a esquadra da Frota do Norte [entrará nos portos cubanos], é informação pública, é verdade, confirmo. Isso é feito sob os auspícios do programa de parceria internacional entre a Rússia e Cuba”, disse Moiseyev.
Há pouco mais de meio século, o mundo literalmente tremeu com a Crise dos mísseis de Cuba, também conhecido como a Crise de Outubro. Tratou-se de um confronto verbal de 13 dias (16 a 28 outubro de 1962) entre os Estados Unidos e a União Soviética, relacionado com a implantação de mísseis balísticos soviéticos na então ilha de Fidel. A crise foi o mais próximo que se chegou ao início de uma guerra nuclear em grande escala durante a Guerra Fria, hoje repetida com o envolvimento, de um lado, dos norte-americanos e europeus, e, de outro, os russos e seus aliados chineses, norte-coreanos e iranianos.
A título de recordação: em resposta à fracassada Invasão da Baía dos Porcos de 1961 e a presença de mísseis balísticos dos Estados Unidos PGM-19 Júpiter estacionados na Itália e na Turquia, o líder soviético na época, Nikita Khrushchev, decidiu atender a um pedido cubano para colocar mísseis nucleares em seu território para deter uma futura invasão estadunidense. Um acordo foi alcançado durante uma reunião secreta entre Kruchev e Fidel Castro em julho e a construção de uma série de instalações de lançamento de mísseis começou depois do verão.
Quando tudo parecia caminhar para abrir as portas do Apocalipse, a pomba da paz cantou mais forte, fazendo com que John Kennedy e Khrushchev assinassem um acordo que reduziu as tensões mundiais. Mas, como a história se repete, mesmo com versão diferente, não se sabe o que poderá vir desta vez.