Um dia a curiosidade falou mais alto do que o juízo. Foi aí que, além do carioca Sérgio Cabral Filho ter descoberto o caminho da grana fácil, o Brasil virou uma fábula com nuances variadas. O que fazer para escolher entre o sujeito de sorte e o sujeito oculto? De um lado, um sapo moribundo ressurgiu das cinzas e, como um esperto gato de botas, ganhou a mão da princesa mágica Jinja para seu dono e, de quebra, transformou situações difíceis em oportunidades de sucesso. A moral dessa história bichana gira em torno da ideia de que a inteligência e a astúcia podem superar desafios que parecem intransponíveis.
Do outro lado, há um lobo que uiva alto, nem sempre morde, incomoda muita gente, mas assusta bem menos do que antes. Também tem o leãozinho da Rua Direita. A princípio dócil e servil, o felino vem sendo criado com virado a paulista para, oportunamente, engolir o coelho prestes a sair da movimentada e silenciosa cartola da esquerda varonil. A recomendação para lá e para cá é a mesma: enquanto seu lobo não vem, a melhor decisão é seguir os ensinamentos do velho malandro. Afinal, ser malandro não quer dizer ser bandido ou esperto, mas saber quando chegar, quando sair e falar somente se for preciso. É o que tenho procurado fazer.
Como sou quase um mané, descobri que parumês já é o segundo do paruano. Por isso, me recolhi e tenho agido como o cavalo marinho, animal que finge que é peixe para não puxar carroça. Paruano começa a contagem regressiva para uma nova corrida presidencial. Menos de dois anos nos separam de mais um toque fatal nas controversas, mas corretas e invioláveis urnas eletrônicas. Quem será ou quais serão os presidenciáveis? Os mesmos? Um deles? Os dois? Nenhum dos dois? Pergunto por que eu não sei. A incerteza fez morada justamente entre o terreno movediço da inelegibilidade e nas areias escuras das intervenções cirúrgicas.
Mantida a dependência do eleitorado nacional a uma inventada e nefasta polarização, em 2026 o povo finalmente terá a prova dos nove em relação a um e a outro candidato. Será que aquele um ganhou novamente porque encontrou grandes amigos pelo caminho ou o caminho que leva aos grandes amigos do outro ainda não foi encontrado. Seja lá o que for, o fato é que o Brasil de 213 milhões de habitantes está dividido ao meio. Considerando a margem de erro à direita ou à esquerda, o que sobra talvez não preencha todos os espaços de quatro ou cinco Kombis cedidas pela SAF interessada em comprar a política do Brasil.
Quase um mané, não perdi tempo e já assegurei meu lugar ao lado do chofer, cidadão que, embora sente do lado esquerdo do veículo, sempre se apresenta como de centro médio recuado. Está ali por uma questão de mão. Fosse em Londres, certamente estaria à direita. Com a evolução automobilística, a tendência é que, em breve, o piloto não esteja em lugar algum. Mas o que são 213 milhões de pessoas que não sabem sequer o que fazer em um país de duas faces? Obedientes à face transparente que manda, e fanáticos à outra, que é oculta, mas também manda, na medida em que seus seguidores não reconhecem o adversário e não admitem seguir suas leis.
E como ficam os passageiros das cinco Kombis? Ao Deus dará. Ou eles copiam o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e buscam novas alternativas enquanto há tempo ou permanecerão como bosta n’água. Como também rompi com Maduro, ignoro Netanyahu, me indispus com Putin e ainda não me acertei com Trump, resolvi incorporar a capa de povo e assumir meu papel de bosta. Hoje, tenho apenas uma certeza: a de não estar certo de nada. Até o próximo Carnaval eleitoral avalio a população brasileira como algo tão importante como o jornal da semana passada. A briga fratricida entre postulantes de um mesmo lado e a falta de nomes capazes e confiáveis de outro me obriga a tomar emprestado um célebre verso de Jorge Ben Jor: “Se malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem”.
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*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras