Foi-se o tempo em que o suco de laranja era considerado um vilão da dieta. Além de contribuir para a perda de peso em adultos – dentro de uma alimentação adequada -, a bebida é benéfica para a saúde óssea das crianças e também para melhorar a absorção do ferro. O consumo, porém, deve ser limitado devido ao alto teor calórico do alimento.
“A laranja é muito rica em componentes importantes para o organismo. Historicamente, a fruta é conhecida por suas propriedades funcionais desde o século 18 quando, durante as navegações, apareceu o escorbuto. O suco de cítricos era uma forma de curar a doença”, conta Rubens Feferbaum, professor livre-docente em pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Escorbuto é uma doença causada pela grave ausência de vitamina C no organismo e, entre os sintomas, estão hemorragias nas gengivas, fraqueza e dores nas articulações. “O suco natural de laranja é fonte rica em vitaminas, minerais e flavonoides, compostos importantes contra reação inflamatória do organismo”, explica Feferbaum.
A vitamina C é o nutriente predominante e mais conhecido da fruta e, segundo menciona um estudo americano, é essencial para a saúde óssea. Como tem função antioxidante, a vitamina protegeria o tecido da ação dos radicais livres, além de atuar na síntese de colágeno – substância que constitui a maior parte da composição dos ossos.
O estudo avaliou o consumo de suco de laranja fortificado com cálcio e vitamina D, importantes na proteção óssea, por pessoas a partir de quatros anos de idade. Em crianças, a ingestão foi positivamente associada à densidade mineral óssea do fêmur.
Naturalmente, a laranja possui cálcio, mas em menor quantidade. Por isso, o professor da FMUSP diz para se considerar o suco 100% integral vendido em supermercados, por exemplo. Porém, é preciso se atentar ao consumo do produto.
“Não há recomendações para o consumo desses sucos [por crianças], apenas sucos in natura [direto da fruta]. Por isso, oriento que o consumo seja feito após um ano de idade, de forma moderada e esporádica, respeitando as recomendações por idade”, diz Renata Alves, nutricionista especialista em materno-infantil.
A recomendação dela é que esse tipo de bebida só seja oferecida aos pequenos quando não houver a fruta ou suco natural da fruta. “Sucos industrializados, mesmo que 100% integral, sofrem perda de vitaminas e fibras, além de algumas marcas usarem conservantes para o alimento não oxidar e durar mais tempo”, afirma.
Renata cita a recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria para consumo de sucos de frutas:
Até seis meses de vida: sem qualquer suco natural, apenas leite materno conforme recomendação da Organização Mundial da Saúde;
Após seis meses: devem ser evitados, mas, se forem oferecidos, que sejam dados no copo, de preferência após as refeições principais e em dose máxima de 100 mililitros por dia;
Crianças de um a seis anos: máximo de 150 mililitros por dia;
Crianças e adolescentes de sete a 20 anos: máximo de 240 mililitros por dia.
A ressalva para o consumo após os seis meses de vida é para auxiliar na absorção do ferro, mineral proveniente de leguminosas e verduras, explica Renata.
Vitamina C e ferro – Em outro estudo, os pesquisadores deram a 21 crianças, entre quatro e oito anos de idade, um muffin fortalecido com ferro mais suco de laranja e depois de maçã. Como resultado, a primeira bebida potencializou a absorção do mineral.
“Quando observamos que grande parte das crianças brasileiras tem déficit de ferro, vemos que em alguns casos há a necessidade de suplementação e manejo da vitamina C após as refeições principais”, diz Renata. O mineral previne anemia e atua para que a hemoglobina, célula presente no sangue, transporte o oxigênio para todo o corpo.
Mas ainda que o suco de laranja seja bom, o consumo da fruta fresca é o mais recomendado. “Três gomos de mexerica, ou 1/4 de laranja, são suficientes para melhorar a absorção do ferro, o que prova que o suco da fruta é desnecessário até um ano de idade”, reforça a nutricionista.
O professor da FMUSP acrescenta que a laranja é rica em fibras que, além de melhorar o funcionamento do intestino, regula a glicemia. A quantidade está relacionada à saciedade, o que faz com que contribua para a perda de peso. Renata informa que meia laranja (85 gramas) tem 40 quilocalorias e duas gramas de fibra.
Mais benefício – O suco de laranja também foi usado em um estudo como meio de aumentar o nível de DHA no organismo das crianças com suplementação. O DHA é um ácido graxo muito presente em peixes e auxilia na incorporação do sistema nervoso e na retina, principalmente dos pequenos. A pesquisa ressalta, porém, que outras análises são necessárias para determinar os benefícios dessa prevalência, particularmente ligados à capacidade de atenção e memória.
Cuidados – Embora tenha inúmeros benefícios, os especialistas chamam atenção para o alto teor calórico da laranja devido à presença de açúcar natural (frutose) e carboidrato – que se transforma em açúcar no organismo. No geral, a recomendação é que qualquer suco dado a crianças seja feito apenas da fruta, “sem diluição (água), sem coar e sem adoçar”, orienta Renata.
A nutricionista indica ainda que a bebida deve ser ingerida de imediato ou, no máximo, em duas horas – dependendo da fruta e do armazenamento -, porque “todo processo que essa fruta passa, inicia-se a oxidação dos nutrientes”.
O excesso de vitamina C também é prejudicial, segundo Feferbaum, e pode resultar em cálculo renal, embora seja raro. Outro ponto comum para os especialistas é que o suco de laranja é considerado alimento – ou seja, não deve ser usado para hidratar o corpo. Nesse caso, a melhor opção é ingerir água.