Notibras

Suécia prepara mudança de cidade inteira ameaçada por mina a um custo de 11 bi

A cidade de Kiruna, na Suécia, corre o risco de afundar. É que a atividade da maior mina de ferro do mundo está cobrando seu preço do local.

“Apesar de as escavações se encontrarem a 1km da superfície, a terra está rachando, o que significa que tudo deve ser eliminado”, disse à BBC Mundo Göran Cars, chefe do projeto de realocação e professor de planejamento urbanístico do Instituto Real de Tecnologia de Estocolmo.

Foi esse o problema com o qual Cars se deparou na primeira vez que visitou a cidade para dar sua opinião profissional.

“Surgiram muitas perguntas: deveríamos construir uma cidade completamente nova? Deveríamos mudar todos os imóveis? Como gerenciar um projeto desta magnitude?”, conta o especialista.

Após ficar confuso, falar com vários colegas e pensar bem nestas perguntas, ele se decidiu por um híbrido de construções antigas e novas em uma cidade de arquitetura futurista, onde distintas épocas viveriam em harmonia.

O lugar da nova cidade será 2km a leste de onde ela está agora. A estimativa é que custe US$ 3,38 bilhões (R$ 11,5 bilhões).

Talvez o passo mais difícil a dar tenha sido o primeiro: falar com as pessoas afetadas e buscar um consenso de como fazer as coisas.

“São suas casas, o lugar onde viveram uma vida, então, deve haver um diálogo aberto sobre as possibilidade e sobre como elas gostariam de viver no futuro”, explica Cars.

As opções eram mudar a casa inteira ou demolir a existente e construir uma nova.

Para quem escolhesse se mudar com casa e tudo, a prefeitura avaliaria a viabilidade e, se aprovada, a propriedade se somaria à lista dos imóveis a serem transportados.

“Agora teremos de mudar 33 edifícios e um número parecido de casas particulares”, conta o especialista.

Quando se trata de um edifício relativamente pequeno, o procedimento é escavar abaixo e levantá-lo a partir das fundações para movê-lo com gruas “muito, muito, muito grandes” até seu novo lar.

“Isso é feito no meio da noite, e é preciso fechar o trânsito das ruas principais”, explica.

Mas, para os edifícios maiores, como a catedral, é preciso desmontar as paredes e colunas uma a uma e reconstruí-las, tijolo a tijolo, na cidade nova.

O que eles começaram do zero – e já terminaram – foi todo o sistema de tubulação e de canos.

“Isso é algo que, agora, pode ser projetado de forma muito melhor”, explica Cars. “No passado havia uma tubulação para cada coisa, agora temos um túnel muito grande por onde passam os sistema de água potável, eletricidade, água quente, resíduos, fibra ótica.”

Além disso, como parte da estratégia ambiental, eles planejam aproveitar o desperdício energético da mina.

“Para produzir ferro, é preciso submetê-lo a altas temperaturas para separar o mineral da rocha. Agora, o excesso de energia que sai pelas chaminés será usado para esquentar água na cidade”.

Este tipo de iniciativa permitirá uma economia de 30% da energia usada.

“As construções novas também estarão mais isoladas (do frio). As casas construídas nos anos 1950 e 1960 não eram muito ecológicas e consumiam muita energia.”

Quem financia o projeto? – Talvez o mais surpreendente deste projeto é que, apesar de estar sendo coordenado pela prefeitura, o governo local não está colocando nem um centavo.

Cabe à mineradora cobrir a maior parte dos gastos, e ela está colocando US$ 2,25 bilhões, enquanto indústrias do setor privado entram com outro US$ 1,1 bilhão.

Segundo o urbanista, quando a mineradora teve de decidir se fechava a mina ou continuava com a atividade e pagava uma compensação, concluíram que seria mais barato cobrir os gastos da mudança de lugar da cidade.

“Além disso, como é uma cidade em expansão – porque não há apenas mineração, mas também indústria turística e espacial -, aqui há uma demanda por construções novas.”

No início do projeto, os especialistas estimaram que as rachaduras no subsolo fariam com que, por volta de 2050, toda a cidade afundasse. Por isso, trabalha-se para que toda a cidade esteja no novo local até 2040.

O primeiro passo será mover o Centro, com a sede da prefeitura, igreja, hospitais e colégio, e pouco a pouco transladar o resto da infraestrutura.

No lugar onde hoje residem mais de 20 mil pessoas, haverá uma zona verde para moradores e visitantes.

“Não queríamos ficar com uma cidade fantasma ou um terreno de escombros”, conclui Cars.

Sair da versão mobile