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Perigo iminente

Sugestão noturna para velho que se acha jovem

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto Reprodução

Entre as várias teorias que aplico ao meu vetusto, afrodisíaco e rocambolesco dia a dia, uma delas é impagável, inegociável e imprestável: fico de mal com o amigo ou com o companheiro de jornadas, mas não perco a piada. Dia desses, após ler, sob protesto, um desses memes enviados sem autorização, reagi com a sutileza de um paquiderme no cio às recomendações recebidas. Sob o pretexto de me colocar a par acerca das recentes preocupações da medicina com os idosos, o texto encaminhado pelo mancebo de longa convivência de imediato me assustou, pois, apesar do tempo já vivido, não sou idoso. Me acho do tipo gasto, com alguns “manchões” no couro, silicones nas partes pudendas, solúvel, sem brochuras na encadernação e, graças a Deus, ainda sem máculas na chamada Faixa de Gaza.

Escrito na segunda pessoa do singular, um dos “recomendamentos” mais estranhos tratou da mijação da madrugada. Como não urino com abundância, estranhei, mas segui adiante. O alerta dizia o seguinte: “Se acordares para ir ao banheiro urinar, não levante com rapidez, pois o sangue ‘esvazia’ a cabeça e tu podes ficar tonto e até mesmo desmaiar. Faça assim: Retese bem as pernas durante 30 segundos, de modo a começar a acelerar os batimentos cardíacos. Sente na beira da cama, pausadamente, e mantenha-se quieto durante um minuto”. Não precisei esperar tanto tempo para perceber que já estava todo mijado. Dormi despreocupado, mas sonhando com um resposta justa e proporcional à minha incontinência forçada.

É claro que a preocupação mijatória impediu que a ideia aparecesse logo nos primeiros dias. Demorou, mas chegou também na forma de recomendação àqueles que já passaram da idade da razão, isto é, que literalmente já dobraram o cabo sem esperança. Tive de buscar informações frias com quem nunca vi e que conheci por intermédio de memes aparentemente quentes, mas carentes de confirmação. Em outras palavras, usei o informativo de um tal João Comitto, supostamente um autor fictício de um também inventado Manual Para Fazer Amor na 3ª. Idade. Falso ou não, as 15 ideias são palpáveis e pra lá de aproveitáveis. Tive a nítida impressão de que era eu o principal usuário das instruções.

Fiquei de queixo caído – o resto já caiu faz tempo – logo na primeira recomendação, que é sempre usar óculos antes da saliência. Nunca havia pensado nisso. Também jamais havia tido preocupação com uma questão aparentemente óbvia: me certificar de que a companhia realmente estava na cama. A dica número três é singular, mas interessante. Passei a ajustar o despertador para tocar em 3 minutos e nunca mais adormeci durante a performance. Elementar é acertar a iluminação, pois o perigo é iminente quando a decisão é por apagar todas as luzes. Outra coisa imprescindível é deixar o celular programado com o número do Samu ou da emergência médica de sua preferência.

Talvez pareça exagero, mas passei a escrever na mão o nome da pessoa com a qual estou acoplando. Esquecer pode significar o fim do acoplamento. Outra coisa fundamental: tenho sempre à mão um Dorflex ou similares para o caso de não cumprimento da performance. Inevitável em algumas situações, mas, quando consigo, evito fazer barulho. Afinal, nem todos os vizinhos são surdos. Nunca é demais utilizar dois travesseiros sob os joelhos. Eles não servem de apoio para posição alguma, mas evitam forçar a artrose. Às vezes em que opto pelo uso da camisinha, mantenho antes uma conversa de pé de orelha com o piu piu. Tenho medo de que ele confunda o trem com touca para dormir e apague sem ajudar no serviço. Ainda que sinta necessidade, não tomo laxantes nos dois dias anteriores à saliência.

Me apavora a ideia de ter uma de minhas numerosas crises de tosse. Mesmo nos dias de frio, não esqueço de tirar a parte de baixo do pijama, embora mantenha a camiseta para não pegar gripe. Como não sou modesto, vocês já viram que sou bom nesse negócio de possuir o sexo oposto. O problema é que, mesmo sob efeito do Viagra ou do Cialis, só consigo repetir a dose de um a dois anos após. Esse prazo de carência me impede de reunir os amigos para contar as boas novas. Logo na primeira frase, eles perceberão que o bambão é bissexto. Se você está rindo, é melhor parar, porque eu pelo menos tento. Não fujo da raia. Nem da vacina. Fiz melhor do que o Zé Gotinha imbrochável. Diz que tomou, que não tomou, que tomou… Acabou levando o que a Luzia levou na horta. Passou quatro anos acusando a Justiça Eleitoral de fraude nas eleições e terminou o mandato fraudando cartões de vacina.

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