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Sugestivas histórias para a epígrafe da vida do homem

Normalmente avesso a conflitos, principalmente os de origem religiosa e política, vivo em paz e pela paz. Depois de anos dedicados às orgias etílico-jornalísticas, a nova ordem do cérebro é desprender. Perdi o título de campeoníssimo das batalhas de alcova. No entanto, tirei o primeiro lugar no torneio de sisudez sexual. Antes de alguma ilação despropositada, devo dizer que ainda estou longe do dia em que serei obrigado a anunciar que dobrei o cabo da esperança. É por isso que mantenho vivas as ideias dos tempos de rapazote cheio de gás, inspiração e vontade de acertar na mosca. É claro que não necessariamente no inseto de asas.

Fui do tipo que não negava fogo. Desde que fosse para dar força espiritual, emocional e laboral a uma desdonzelada, aceitava qualquer empreitada. As igrejas evangélicas e os terreiros de macumba eram os points preferidos. A senha para o prazer desmedido era a sinalização do sofrimento ou o suposto fim dele. Por exemplo, logo me aproximava de uma irmã ao ouvi-la alardear que ontem estava nos braços de Satanás e hoje se encontra nos braços de Jesus. Com quem não quer nada, mas deseja tudo e mais um pouco, de imediato oferecia meus préstimos para amanhã. Raramente eles não eram aceitos.

E pouco me importava com o perfil da incauta. Importante mesmo era a performance e o resultado a ser alcançado. Alcancei a robustez do clímax com variadas espécimes de diferentes características. Do calor dos trópicos e da frieza dos polos à alta combustão (mulher alta com fartos seios), enfrentei de tudo, sem a necessidade de estimulantes ou lubrificantes do tipo “Xapa Xana”. Ainda na mais tenra juventude só me indignava quando um pastor ciumento, depauperado e corneado pela irmã usava o microfone do púlpito episcopal para me espraguejar, insinuando que eu estava sujo na rodinha.

Nesse período, cheguei a ser conhecido como o mais ágil tecladista das sete notas musicais. No mais clássico estilo do rock and roll, me faltava Dó de quem ficava de Ré no Sol Fá. Lá eu Mi Si fazia. Afinal, além de universal, a boa música funciona como um mantra suave durante a prática de uma boa ação libertina, lasciva e libidinosa. Eita coisa boa de viver e de fazer. E vivi intensamente sob o simplório argumento de que um dia iria sucumbir. Tremia de medo só de imaginar meu avô Aristarco Pederneira repetindo que quando a vida se encerra há sempre alguém que nos enterra. Tô fora! No meu, não!

Mas, como ocorre para todo mundo, o tempo passou. E passou ligeiro como o vento. Aliás, é o vento conhecido por minuano, aquele que pega muita gente pelas costas, que me traz algum prazer nos dias de hoje. Nos atualmente, ouço em casa o que ouvia de minha avó Anastácia Pederneira nos antigamente. Todo dia de ventania, ela obrigava o pai de meu pai a ficar na varanda, onde, segundo ela, a força do sopro do vento levantava tudo, inclusive os mortos. Funcionava com o velho e funciona comigo. A brisa fresca que me sacode todos os membros me devolveu a alegria.

O fato é que, após anos de algumas displicências e muitas apatias, finalmente deixei de ser chamado “carinhosamente” de molenga. Devo mais essa à minha avó. Partirei para o outro lado convicto de que a mulher é um efeito deslumbrante da natureza. É por isso que, quanto mais conheço os homens, mais aprecio as mulheres. Nada contra quem não gosta. A luta continua. A diferença é que agora não é mais no meio da rua. Com esperança e sem remédios, valho-me de minhas histórias para sugerir minha epígrafe: Vale muito mais andar descalço do que tropeçar com os sapatos dos outros.

*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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