Foi há 70 anos: 24 de agosto de 1954. Eu tinha somente 6 anos. Naquele dia, embora não entendesse o que isso significava, eu demonstrei pela primeira vez interesse por política.
Não, eu não me envolvia em qualquer atividade como um “militante”. Mas, como qualquer outro brasileiro, eu percebia que havia algo diferente no ar.
Morávamos em casa de meus avós, em Salvador, e não pude deixar de perceber que os nervos dos adultos estavam alterados. O exemplar de A Tarde corria de mão em mão, não raro lido por mais de uma pessoa.
Tão logo o jornal foi deixado em um canto, eu fui também espiar. As fotos eram de multidões e fui perguntar a um tio o que era aquilo. “O presidente Getúlio Vargas morreu”, disse sem maior explicação.
Nos dias seguintes vim a entender o que significava suicídio e notar que aquilo era extremamente importante para o Brasil.
Só anos depois pude perceber a importância de Getúlio para o nosso povo. Li a carta testamento e ficou claro o sentido de cada uma das suas palavras, inclusive ao dizer “saio da vida para entrar na História.”
Pude entender que aquele texto tinha algo a ver com as “forças ocultas” apontadas por Janio Quadros como responsáveis por sua renúncia e com a tentativa de impedir que João Goulart reassumisse o governo, em 1962, na volta de uma viagem à China.
E tudo a ver com o seu afastamento, com o golpe militar de 1964, que então já testemunhei, aos 16 anos, como jovem militante, presidente do grêmio do meu colégio. “As forças e os interesses contra o povo”, citadas no início da carta de despedida de Getúlio, haviam finalmente vencido.