Rita passou a noite em claro. Esperou em vão a volta de Orestes, que, ela bem sabia, de vez em quando esticava a pescaria noite adentro, ainda mais quando acompanhado de Almeida. Deitada no sofá, acabou cochilando por uma hora ou duas, quando foi despertada pela claridade vinda da janela.
A mulher esticou os braços, bocejou e, quase empurrada daquele lugar, aprumou o quadril para começar o dia. Foi até o banheiro, lavou o rosto, escovou os dentes, penteou os longos cabelos, que, apesar dos 34 anos, já apresentavam alguns fios brancos. Era hora de fazer o café.
Na cozinha, pegou o pó e colocou a água para ferver, certa de que o marido logo entraria por aquela porta. Que nada! Bebeu quase metade da garrafa de tão apreensiva. Sentou na varanda com mais uma xícara de café. Nenhum sinal de
Orestes.
Telefonou para Almeida, que não sabia de Orestes. Aliás, ele até o havia chamado para pescar no dia anterior, mas Almeida disse que não poderia, pois sairia do trabalho mais tarde. Mesmo assim, percebendo a preocupação de Rita, se ofereceu para ir até a prainha do Lago Norte, onde os dois costumavam pescar.
Almeida estacionou o velho Corcel verde. Mal desceu do veículo, percebeu o vira-lata Amigo. O cachorro logo reconheceu o homem, mas não teve disposição para se levantar. Continuou aninhado na camisa do dono.
O homem se aproximou do cachorro, olhou ao redor. Nenhum sinal de Orestes. Tirou os sapatos e as meias, arregaçou as barras da calça, entrou no lago. Quando já estava desistindo, encontrou a vara de pescar do amigo. Ele meteu a mão no fundo e a pegou. Retornou para a margem. Depois de quase meia hora de buscas, Almeida pegou Amigo no colo e foi embora.
Chegou à casa de Rita e lhe contou o ocorrido. Decidiram que o melhor era fazer um boletim de ocorrência na delegacia. E foi o que fizeram logo em seguida.
Quarta-feira, 5, o capítulo 3