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Era só gandaia...

Sumiço do velho Fausto deixa delegacia em rebuliço

Publicado

Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Jean Paul, que estava na polícia há poucos meses, ao colocar os pés na delegacia na manhã de domingo, imaginou que seria um plantão tranquilo. O local estava tão silencioso, que era possível ouvir nitidamente a bela voz da jornalista Helen Martins na televisão presa à parede ao lado. Ele deu uma olhadela para a apresentadora do Globo Rural, antes que cumprimentasse o Gilmar e o Renatinho, os dois outros agentes que faziam parte da equipe.

— E aí, galera, tudo na paz? Parece que hoje será um plantãozinho de boa.

— Fecha essa boca, moleque! Quer trazer azar?

— Foi mal, Gilmar!

Nisso, o telefone toca, ao mesmo tempo em que Renatinho e Gilmar lançam um olhar de desaprovação para Jean Paul. Quem mandou o novato abrir a matraca? Que entrasse mudo e saísse calado da próxima vez.

Jean Paul atendeu o telefone. Era a dona Sônia, conhecida moradora da região, famosa pelas empadinhas de camarão. Do alto dos seus quase 90 anos, a velha gozava de elevada reputação até mesmo entre os homens da lei. Tanto é que o Gilmar fez questão de tomar o telefone das mãos do colega e, após ouvir a voz cheia de autoridade do outro lado da linha, não teve dúvida. Precisaria agir antes que a situação caísse nos ouvidos do delegado.

— Rapazes, o seu Fausto sumiu.

— O marido da dona Sônia?

— Sim, Renatinho. Mas parece que o rastreador da camionete dele está acusando que ele possa estar em cárcere privado em um endereço aqui perto.

Gilmar, percebendo que o caso era delicado, resolveu agir. No entanto, como estavam apenas em três naquele dia, avisou a Sissi, responsável pelo café, para que ela ficasse no balcão da delegacia, caso alguém aparecesse. Em seguida, já na viatura, com Jean Paul ao volante, os agentes rumaram para o local.

O carro da polícia estacionou em frente à casa, que possuía um muro de mais de dois metros. Enquanto Jean Paul, o mais alto, tentava olhar por cima do muro, Gilmar, o mais esperto, se agachou e, pela fresta do portão, constatou que a camionete azul do Fausto estava dentro da propriedade. Diante da situação crítica, os três confabularam sobre o próximo passo. Invadir o local ou tocar a campainha?

Nem uma coisa nem outra, pois, por milagre, o portão se abriu diante dos olhos assustados dos homens da lei. Uma mulher de seus 30 anos, em trajes sumários, que revelavam a sinuosa silhueta do seu corpo, apareceu. Ela olhou aqueles três homens e, em seguida, colocou o saco de lixo no suporte ao lado.

Gilmar foi o primeiro a se desvencilhar do transe acometido pela equipe. Ele se dirigiu à tal mulher, que disse se chamar Sula. Questionada se o seu Fausto estava no recinto, ela respondeu que sim. No entanto, pediu para que não fizessem barulho, pois o homem havia tido uma noite animada e estava repousando.

Desconfiado das palavras da mulher, Gilmar pediu autorização para entrar na residência. No entanto, nem foi preciso, já que surgiu, diante dos seus olhos, o seu Fausto, apenas de cueca samba-canção. O velho disse que estava tudo bem, que ele estava apenas se divertindo um pouco, mas que logo voltaria para casa.

Sem mais o que fazer, os três policiais retornaram para a delegacia. Assim que a viatura parou, Gilmar foi o primeiro a descer. Agradeceu a Sissi, que estava com uma xícara de café nas mãos e a ofereceu para o policial.

— Valeu, Sissi! Você é a melhor! Quanto a você, Jean Paul, trate de telefonar para a dona Sônia.

— Eu?

— Sim! Quem começou essa confusão foi você. Trate de dar um jeito nisso.

Sem argumentos para contestar o chefe da equipe, Jean Paul ligou para a idosa.

— Dona Sônia, bom dia! Aqui é o agente Jean Paul. Encontramos o seu marido.

— Ah, que bom! E ele está bem?

— Sim. Parece que ele teve um probleminha com a camionete. Melhor a senhora conversar com o seu esposo assim que ele chegar aí. O seu Fausto vai explicar melhor a situação para a senhora.

Assim que o Jean Paul desligou o telefone, Gilmar, Renatinho e a Sissi lançaram olhares de desaprovação para ele. Que ficasse de bico fechado até o final daquele plantão.

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

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