Anteontem, o José Seabra, editor do Notibras, me convidou para um churrasco na Vila Planalto. Pois bem, quando já estávamos com o bucho cheio de tanta carne, farofa e molho à vinagrete, eis que me lembrei de uma história que aconteceu comigo há muitos anos, quando ainda era funcionário do Banco do Brasil. O Seabra, depois de ouvi-la, teve que ir ao banheiro vomitar.
Alguns poderiam dizer que essa história não passa de mais um devaneio da minha mente, mas afirmo com todas as letras e mais algumas que isso realmente aconteceu. Pois bem, lá estava eu trabalhando no antigo DEREG, o maior depósito do Banco do Brasil, quando alguém passou recolhendo o dinheiro do churrasco que iria acontecer na sexta-feira. Seria a primeira vez que eu iria participar dessa confraternização, já que há pouco havia sido transferido para aquele local, que ficava encrustado na entrada da favela Kelson, na Penha Circular, na cidade do Rio de Janeiro.
Apesar de não ser tão fã assim de carne, passei a semana inteira pensando mais no churrasco do que no trabalho. Fiquei sabendo que o churrasqueiro oficial do DEREG era o Paulão, que trabalhava na empilhadeira. Ele era um cara enorme, não tanto pela altura, mas pelo peso. Por volta de 1,80 m, pesava uns 180 kg no mínimo. Aliás, ele sempre tinha uma frase na ponta da língua para mim: “Dudu, você nunca terá o meu peso, mas um dia eu terei o seu”.
Quando chegou o dia tão esperado, todos estavam sorrindo mais que de costume. O Antonio Manoel, meu grande amigo até hoje, era o mais animado, mesmo porque sempre foi réu confesso quanto a nunca ter sido muito afeito ao trabalho. A Sonia, a Kênia, a Keila, o Nilsinho, o Anibal, o Samuel, o Antonio Costa, o Serginho, o Divino, o Marquinhos, o Marcão, o Clarinho, o Luís, o Rodina, o Tadeu, todos sorrindo de orelha a orelha.
E lá estávamos no refeitório do DEREG, onde havia até karaokê em uma área aberta para quem quisesse arriscar uma de cantor. Eu, que até então desconhecia os dotes artísticos do Samuel, fiquei impressionado. Imagine uma mistura de Sidney Magal com Altemar Dutra. Pois é, creio que isso é o mais próximo do que é a poderosa voz do Samuel, ou Samuca, como alguns o chamavam.
Eu ainda não havia comido, quando a Sonia, sempre muito atenciosa com todos, veio me oferecer um pratinho abarrotado de carne e linguiça. Agradeci e me sentei numa mesa com alguns colegas. A carne era deliciosa, como jamais havia provado. O tempero era algo que eu não conseguia distinguir muito bem. Todavia, jurei a mim mesmo que era o melhor churrasco que havia comido em toda a minha vida.
Conversa vai, conversa vem, eis que o prato logo se esvaziou. Então, como eu era o mais novo integrante daquela confraria, fiz questão de me levantar para buscar mais carne. Fui até a churrasqueira, que ficava no fim do salão. Foi aí que percebi de onde vinha esse gosto tão diferente, que havia me conquistado. É que o Paulão, quase grudado à churrasqueira, suava em bicas sobre a carne na grelha.