Já é dada como certa entre os bolsonaristas a volta dentro da legalidade do ex-presidente às quatro linhas do cenário político. Seus correligionários garantem que a inelegibilidade de Jair Bolsonaro tem efeito suspensivo à vista. E dentro desse clima de bastidores começam a mexer as peças, afiar os discursos e preparar o campo de batalha. O alvo? O trono máximo do Palácio do Planalto, hoje ocupado por Luiz Inácio Lula da Silva, o vitorioso no último embate entre os dois nas urnas eletrônicas.
Aposta-se como pule de 10 que a polarização vem aí. De novo. Tanto que em Brasília a fumaça branca da disputa já se ergue no horizonte. Talvez não tão límpida. Na realidade, o Brasil, que de Vaticano pouco ou nada tem a ver (excetuando-se a suposta cidadania de Deus, tido como brasileiro), montará mais uma vez seu eterno tabuleiro de xadrez político, preparando-se para uma nova temporada de ânimos exaltados.
De um lado, os que enxergam em Bolsonaro a força bruta do antipetismo. Do outro, os que veem em Lula a resistência dos que nunca arredaram pé da trincheira. A terceira via? Sempre prometida, nunca realizada. A corrida será entre esses dois principais protagonistas. Para vice, o que não falta é coadjuvante.
Nos bares, nas redes, nas praças, o país logo estará afiando sua língua, pendendo para um dos lados. As famílias, já calejadas por discussões inflamadas, retomam a cautela nas reuniões de domingo. Os amigos se encaram com aquele olhar de “vamos falar de futebol?”, mesmo sabendo que, a exemplo de política e religião, futebol é um assunto que não se discute. O Brasil se veste, assim, novamente, para a guerra eleitoral.
Será um remake? Um déjà vu? O roteiro é conhecido, mas sempre vem com pitadas de imprevisibilidade. Quem sabe o Supremo Tribunal Federal, o Tribunal Superior Eleitoral, o Congresso Nacional, passem uma borracha, como aconteceu com Lula, e permitam, um ou mais desses poderes, que os dois gladiadores eleitorais se posicionem na arena? O inesperado bate à porta. Respeitada a manifestação de bolsonaristas, uma coisa é certa: o Brasil seguirá sendo palco de paixões, de discussões ferozes e de um destino que insiste em se reinventar a cada quatro anos.
Quanto ao eleitor, ao mesmo tempo eterno espectador e protagonista, observa, torce, grita, discute e aguarda até a próxima eleição. No caso específico de 2026, Bolsonaro tem duas pedras no caminho: o Legislativo e o Judiciário. A situação de Lula é parecida. Seus dois maiores adversários são o dragão da inflação e as velhas raposas políticas acostumadas com o toma-lá-dá-cá. Sua sombra é seu fantasma. Sabendo o que pode vir pela frente, dia sim, outro também, ele ataca o antecessor. Resta saber se um receberá a faixa – ou se o outro ficará com ela por mais quatro anos.
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Marta Nobre é Editora-Executiva de Notibras