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Supremo pode evitar que Bolsonaro tire Brasil dos trilhos

Pela ducentésima segunda vez, valho-me desse precioso espaço para informar – ou afirmar – que não tenho recibo para defender Luiz Inácio, tampouco promissórias assinadas contra Jair Bolsonaro. Com todas as limitações de um ser humano, o que escrevo normalmente sai do coração, da alma, do sentimento de um cidadão cumpridor de leis e dos deveres determinados pela vida em sociedade. Em outras palavras, sempre estou com a mente higienizada e com o fígado desopilado. Como patriota sem a necessidade de andar com bandeirolas penduradas no carro, repito que, além da família e dos amigos, meu partido é meu país. A ele eu defendo. Por isso, o vigor nas eventuais ácidas críticas ao desgoverno do capitão. Jamais imaginei passar dos 21 anos e ser surpreendido por um mandatário que ainda pensa com senhor de engenho, como capataz raivoso de fazenda falida.

Os tempos são outros e o Brasil merecia um governo melhor, um governante que tivesse ideias e propostas inteligentes, que não estivesse preocupado apenas com o confronto, com o tumulto. Poderia até pensar em reeleição, mas que priorizasse o povo e suas mazelas. Tanto faz que seja militar, juiz, cantor sertanejo ou operário. Tem de ser do bem e, no mínimo, ter noção do que faz e de como deve proceder um presidente da República. Fundamental que tenha votos, é claro. Se não tiver, vai escorregar e cair na pista de gelo todas as vezes que tentar mudar as regras do jogo com a partida iniciada. Nem pensar em sonhar com a auditagem do voto como oportunidade de ganhar fraudando. Essa fase também já acabou. Faz tempo o país está doente. E, de repente, do nada, surge um “médico” fundamentalista que receita para curar um vírus dos mais letais remédio para vermes.

Meu candidato certamente não escolheria o “economista” Paulo Guedes para comandar uma das pastas mais caras e sensíveis da Esplanada dos Ministérios. Com todo respeito às moças que por lá labutam, eu não o escolheria sequer para caixa de prostíbulo de beira de estrada. A exemplo de todo o governo, trata-se de um ministro que não sabe o que dizer quando é cobrado a respeito de soluções para a combalida economia nacional. Na verdade, em vez de resolvê-los, cria novos problemas diariamente. A pérola do dia é a crítica ao medo do contribuinte com mais um “aumentinho” na conta de luz. A culpa da vez é a falta de chuva. Ele e o chefe da trupe estão sempre certos. Um dia Guedes ainda vai parodiar o papa Francisco, que nos chamou abertamente de cachaceiros, e dirá, possivelmente em uma entrevista à Ràdio Jovem Pan ou ao Ratinho, talvez ao Datena, que os preços dos combustíveis sobem diariamente porque o brasileiro está bebendo gasolina e etanol. E sem gelo.

Como não há governo no Brasil, quem anda fazendo as contas, os projetos, as regras e as leis são os anjos do Supremo Tribunal Federal, eventualmente com ajuda de lideranças políticas engajadas com as agruras da sociedade. Depois, querem criticar o STF por estar ocupando o espaço do Executivo. Se o ocupante do Palácio do Planalto nada faz, deixem o STF agir. Como deixou bem claro o presidente da Corte, ministro Luiz Fux, a inércia ou a volúpia de Bolsonaro com questões que não são suas vêm consagrando a independência do Poder Judiciário. Alias, é imenso o prazer do capitão em se meter onde não deve. A tentativa de tirar Alexandre de Moraes do lugarzinho vitalício que ele arrumou com Michel Temer foi a pior delas. Caríssimos compatriotas, por falta absoluta de competência de um lado da Praça dos Três Poderes, que tal concordarmos temporariamente com a ascensão do moço que dá expediente de toga do outro lado da Praça? O vice general também é uma possiblidade. A crise que se aproxima são os precatórios incluídos no Orçamento de 2022.

Valores devidos pelo governo federal após sentença definitiva da Justiça, eles devem alcançar à marca de R$ 89 bilhões no ano que vem. O argumento é que esse montante, muito acima do previsto, pode comprometer a execução de políticas publicas. Parece brincadeira. E é. Não tivemos precatórios este ano e também não ouvimos falar de políticas públicas. No máximo de políticas privadas. Luiz Fux novamente foi convocado para solucionar o caos. Como “ministro” da Economia, ele deu a ideia, que passa por uma mediação do Conselho Nacional de Justiça Justiça (CNJ). Simples na apresentação, mas de difícil negociação, a proposta é a edição de uma resolução limitando despesas com precatórios. O problema responde por Paulo Guedes, que defende parcelamentos a perder de vista, isto é, compromissos que não serão cumpridos. Em síntese, talvez seja o STF, instituição que os bolsonaristas querem detonar (preferencialmente com os ministros dentro), o salvador do detonado governo do capitão Messias. O STF pode recolocar o trem nos trilhos. São as voltas que o mundo dá.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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