Fabiana Cambricoli
As críticas ao Sistema Único de Saúde (SUS) são muitas e bem conhecidas. Atendimento precário, falta desde médicos a medicamentos básicos. No caso do câncer, em particular, a demora de meses e até anos à espera de atendimento resulta em mortes que poderiam ser evitadas com tratamento adequado. Políticas e programas de saúde anunciados para melhorar o atendimento oncológico não têm conseguido conter o crescente número de ocorrências e de óbitos.
Especialistas das redes pública e privada da saúde, reunidos na quarta-feira, 10, em São Paulo, em mais um evento da série Fóruns Estadão, realizado pelo Grupo Estado, concordaram que, antes mesmo de novas iniciativas, é necessária uma mobilização para pôr em prática as medidas já aprovadas. “Nosso compromisso deve ser o de melhorar a gestão na saúde para usar bem no que já temos. Existem centenas de serviços e equipamentos prontos, mas que não estão em funcionamento.
Enquanto não estivermos usando bem o que já temos, não tenho moral para pedir mais recursos”, declarou o ministro da saúde, Ricardo Barros, presente ao encontro.
A oncologista Maira Caleffi, presidente da Femama, ONG voltada ao combate do câncer de mama, ressaltou as falhas na aplicação da Portaria 874, de 2013, que instituiu a política nacional para prevenção e controle do câncer. “Essa portaria é um primor, inclui tudo o que a gente gostaria de ter. Mas precisa ser executada.”
Oncologista clínico do Hospital Albert Einstein e diretor científico do Instituto Oncoguia, Rafael Kaliks foi enfático ao sustentar que, para ele, a única forma de melhorar o atendimento oncológico à população é “a interação entre o SUS e a medicina suplementar. A estrutura do SUS é pobre. Deveríamos usar o parque instalado da medicina suplementar”.
Para Kaliks, “decisões erradas de governo têm levado a mortes evitáveis”. “O Ministério (da Saúde) tem de assumir a responsabilidade de pôr as pessoas certas no lugar certo. Por exemplo, quem determina qual medicamento ou tratamento deve ser incorporado ao SUS?”