Rafela Borges
No Brasil, 2015 ficou conhecido como o “ano dos utilitários-esportivos”, principalmente por causa da chegada do Honda HR-V e do Jeep Renegade. O ano seguinte não ficou atrás em número de lançamentos do segmento e, para 2017, estão previstas pelo menos 15 novidades na categoria. Isso demonstra que os utilitários-esportivos conquistaram de vez um lugar de destaque no coração do consumidor brasileiro.
No período entre 2013 e 2016, as vendas do segmento registraram pequena queda (3,8%), de 292.194 para 280.886 unidades, de acordo com dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Comparado com a retração de 44,5% registrada no mercado geral de carros novos, contudo, o recuo foi mínimo.
Além disso, a participação desses modelos nos emplacamentos totais disparou, passando de 9,2% em 2013 para 16,8% em 2016, segundo informações da Anfavea, a associação das montadoras. Os números demonstram que está havendo uma migração de clientes de outras categorias.
Especialistas de mercado afirmam que neste ano os utilitários-esportivos deverão representar 20% de todos os carros novos vendidos no País. Em 2020, o número será de 25%.
Carro da moda – Consultor da ADK Automotive, Paulo Garbossa afirma que 90% das vendas do segmento têm motivação emocional.
“Os utilitários transmitem sensações que agradam os consumidores, como a ideia de maior segurança no trânsito, pela posição de dirigir elevada, ou de supostamente oferecer mais espaço para os passageiros e no porta-malas (algo que, na realidade, não é oferecido por muitos “jipes” compactos do mercado).”
O especialista afirma que, para esse público, os fatores racionais ficam em segundo plano.
As características atribuídas aos utilitários reforçaram o crescimento da participação do público feminino no segmento. Elas respondem por 50% das vendas desses carros nas gamas Honda e Renault, por exemplo.
É o caso da empresária Élide Lima, que recentemente trocou um Hyundai HB20 por um HR-V. Ela optou pelo Honda feito em Sumaré (SP) por causa dos atributos associados ao segmento. “Sempre desejei um carro com câmbio automático e mais alto. Além disso, o HR-V é confortável e veloz.”
A professora Priscilla Cabral também queria um carro com os mesmos adjetivos citados por Élide. A escolha pelo Fiat Freemont envolveu ainda um fator racional. Como ela tem quatro filhos, precisa de um modelo com muito espaço.
As duas afirmam que estão satisfeitas e pretendem continuar no segmento quando chegar a hora de trocar de carro.
O gerente de marketing da Renault, Dimitri Castiglia afirma que o comprador de utilitários-esportivos busca veículos mais requintados, com qualidade e bem recheados. “O cliente do Captur não é o mesmo do Duster. Ele busca, além das características comuns ao segmento, design atraente e mais equipamentos”, diz.
Há ainda os clientes que associam esse tipo de carro ao estilo de vida que querem transmitir. Embora sejam utilizados principalmente em centros urbanos, os utilitários passam a ideia de fuga da cidade. Outros procuram nos “jipes” as tecnologias que não encontram nos segmentos de entrada.
O engenheiro Frederico Zenorini se enquadra nesse perfil. “Escolhi o Ford EcoSport porque ele traz controle de estabilidade e tem consumo moderado”. Também o agradou a ideia de ter um carro multifuncional, com bom espaço e conforto na cidade e fora dela, já que ele e sua esposa gostam da vida em meio à natureza.
Clientes premium – Quando o orçamento supera a barreira dos R$ 200 mil, a expectativa em relação ao utilitário-esportivo muda. “Para essas pessoas o veículo deve oferecer o mesmo nível de conforto e requinte que ele encontra em casa e no escritório”, afirma Garbossa.
O tamanho não é uma preocupação. Em geral, esse cliente conta com vagas de estacionamento amplas, utiliza serviço de manobristas e, para situações que requerem praticidade, têm um segundo carro, menor.
Jipinhos “nano”. As montadoras perceberam que há também um grupo de pessoas que deseja utilitários com os mesmos atributos dos compactos, mas ainda menores. Isso está ligado à falta de espaço nas cidades, em especial nos grandes centros.
Para atender esse público há produtos como WR-V e Q2. O Honda, que acaba de ser lançado no País, é derivado do Fit. Para o Audi, que utiliza a plataforma do próximos Volkswagen Gol e Polo, por ora não há previsão de venda no Brasil.