Andrei Netto
Em meio à crise política em Brasília, o assessor especial da presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, afirmou neste sábado, 28, em Paris, que “não existe grande alternativa política no Brasil”. Questionado pelo jornal O Estado de S.Paulo, o assessor da presidente Dilma Rousseff disse que o sistema político brasileiro, baseado no presidencialismo de coalizão, “não vai longe”.
Garcia afirmou que o momento político do país é de “crise política forte”, que “afeta todos os partidos”, inclusive o Partidos Trabalhadores (PT). Foi então que o assessor avaliou: “Não há uma grande alternativa política no Brasil”.
O assessor é um dos mais longevos quadros do PT nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, que passou a integrar desde a posse de 2003. Indagado pelo jornal O Estado de S.Paulo sobre se o momento da crise política, com a prisão do senador Delcídio Amaral, líder do PT no Senado, é o pior em mais de 12 anos de poder, o assessor respondeu que considera o presidencialismo de coalizão com os dias contatos.
“O sistema político do Brasil como um todo está afetado. O problema é saber como nós vamos superar os problemas políticos estruturais”, argumentou Garcia. “Você acha que o presidencialismo de coalizão com o qual trabalhamos há algum tempo vai longe? É lógico que não vai.”
Garcia criticou ainda a organização do sistema partidário no Brasil. “Eu sou a favor da multiplicidade de partidos, mas eu sou contra as razões que levam à multiplicidade de partidos”, afirmou. “Quais são os partidos que têm identidade efetivamente? Poucos.”
O assessor integra a comitiva do Brasil que participará da abertura da 21ª Conferência do Clima (COP 21) das Nações Unidas. Dilma Rousseff chegou ao hotel e ingressou pela garagem, sem falar com os jornalistas.
A delegação chegou dois dias antes do evento, quando ainda não tinha compromissos previstos na agenda oficial. No final da tarde, a presidência informou que quatro reuniões bilaterais foram marcadas para o domingo, com a primeira-ministra da Noruega, Erna Solberg, com os presidentes do Equador, Rafael Correa, e da Bolívia, Evo Morales, e com o representante da Comunidade do Caribe (Caricom).
Uma reunião com negociadores brasileiros da COP 21 também será realizada na embaixada do Brasil em Paris. Segundo Garcia, o discurso da presidente para a abertura da Conferência do Clima, na segunda-feira, já está redigido. Questionado pelo Estado se a presidente pedirá um acordo internacional legalmente vinculante (obrigatório), Garcia disse que o discurso não entra no assunto. “Ela não entra no detalhe sobre a obrigatoriedade do acordo, porque isso não está fechado. Essas coisas se resolvem de outra maneira”, argumentou, referindo-se às negociações.
Embora tenha chegado mais cedo a Paris, a presidente reduziu a viagem internacional. Visitas programas para o Japão e o Vietnã para o início da semana foram canceladas – a Tóquio pela segunda vez. Sobre o cancelamento, Garcia reconheceu o inconveniente. “É chato, eles vão ficar chateados, mas saberão entender”, disse Garcia, antecipando que a presidente pretende encontrar o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, em Paris.