Talarico corria despido pela rua, enquanto uma multidão furiosa o perseguia. Aliás, tirando o marido traído, os outros eram apenas curiosos a fim de ver o desenlace daquela pendenga. E lá ia Talarico todo esbaforido, mais ligeiro que preá com medo de virar espetinho. Tamanho o seu desespero, nem sentia dor, apesar do balançar do sino de Belém entre as suas pernas.
– Pega!!! Pega!!! Pega!!!
Que nada. O peladão entrou por aqui, mas, antes que o seu perseguidor percebesse, lá estava o nosso Don Juan pulando o muro, entrando pelos fundos da casa vizinha, assustando duas velhas sentadas à mesa na hora do chá, e tomando novamente a rua em seguida.
Correu tanto, que nem os cachorros que latiam em seu encalço conseguiram alcançá-lo. Escafedeu-se, apesar da expectativa de todos e, em especial, da do esposo da doce Jurema. Afrânio, ainda com uma peixeira na mão, suando em bicas, soltou um grito, que poderia até ser confundido com o de um bugio.
– Que raiva!!! Mais cedo ou mais tarde eu te pego, seu salafrário!!!
Já bem distante dali, Talarico, com as duas maçãs do traseiro perdendo o ritmo daquela desesperada corrida, finalmente olhou para trás. Nada. Ninguém mais ao alcance dos seus olhos tão lascivos. E, apesar da sensação de ter escapado de mais uma boa, não titubeou e manteve o passo firme até a casa da Rosinha, com quem, há tempos, fazia promessas de uma vida juntos.
Em pé diante da porta, Talarico foi recebido pelos olhos surpresos da amada.
– O que houve? Por que está assim sem roupa?
– Minha flor, você não vai acreditar! Fui assaltado por uma gangue logo ali! Como esse mundo está violento! Não se pode nem mais andar por aí em paz!
Rosinha, olhando todo aquele teatro, tocou de leve o rosto do seu homem, fez uma cara de compaixão e, finalmente, lhe deu as costas.
– Talarico, você falando e um risco n’água, pra mim é a mesma coisa!