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Tarcísio usa contra pobres lições aprendidas com mito

Governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas, participa de cerimônia de posse dos desembargadores Messod Azulay Neto e Paulo Sérgio Domingues, como ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A pretexto de conter a violência em bairros periféricos da Baixada Santista, o governo de são Paulo ordenou uma operação selvagem que durou quatro meses. Nesse período, as polícias Civil e Militar mataram sumariamente 56 supostos bandidos. A incursão policial foi encerrada semana passada sem nenhuma resposta prática à população. Pelo contrário, conforme avaliação do ouvidor da Polícia estadual, para quem o modelo de bandido bom é bandido morto, não serve para ninguém. Seria não fosse o absurdo de que, entre as vítimas fatais, estavam deficientes físicos e visuais e uma mãe de seis crianças. Até onde se sabe, cego e aleijado não conseguem fugir tão facilmente da Polícia.

Apesar da prisão em série de considerados foras da lei (algumas forjadas), do recolhimento de armas de fogo e da apreensão de 2,6 toneladas de drogas, o balanço policial foi muito além do imaginado pelo pior dos carrascos. Não estou dizendo que o Estado tem de ser resiliente. É claro que não. Entretanto, esse mesmo Estado não pode ser transformado em uma máquina de matar. Aliás, de matar pobres, pois, também na semana passada, a mesma força policial invadiu uma casa de família no interior de São Paulo, agrediu um jovem preto e espancou seu pai, um cadeirante, cujo crime foi defender o filho.

O ápice da vulnerabilidade de caráter de quem é pago paga proteger o cidadão foi a descoberta de que não havia queixa, tampouco mandado de prisão contra o rapaz. Para não perder a oportunidade, os bandidos fardados prenderam o jovem negro por desacato. Curiosamente, no intervalo de algumas horas ou dias, a PM paulista que bateu no cadeirante liberou do flagrante delito um outro jovem que, dirigindo um carro de R$ 1,2 milhão, matou um pobre motorista de aplicativo. São os dois pesos e as duas medidas do governador bolsonarista Tarcísio de Freitas, responsável direto pelo abuso dos policiais. Certamente levados pelo excesso de “patriotismo”, os policiais militares permitiram que a mãe do menino riquinho o tirasse da cena do crime.

Agiram mal, mas fizeram bem e agradaram o dono do pedaço. Ameaçado de denúncia à ONU, Tarcísio, usando de todos os argumentos que aprendeu com o mestre, afirmou que “não está nem aí para a ONU”. Ele deveria saber que, por essas e outras, o “chefe” está a um passo da forca. Imagino que o modus operandi do governador não seja apenas mais uma coincidência com o regime do Jair, mas não devemos esquecer que Tarcísio é uma “invenção” bolsonarista.

A juíza do caso não agiu diferente. Afirmou que o clamor público não seria suficiente para determinar a prisão do patricinho. A mesma meritíssima já manteve preso um homem acusado de roubar desodorantes e bebidas. Coisas do Brasil que não se respeita.

E não foi somente essa. O Senado, a Câmara Federal, as assembleias legislativas estão apinhadas delas. E, por enquanto, além de ameaçar o governo federal e que o apoia, o que fizeram suas excelências por seus estados e pelo país? Não sou anotador de frequência, mas cadê Damares Alves, os generais Eduardo Pazuello e Hamilton Mourão, o coronel Marcos Pontes, Tereza Cristina, Magno Malta, Chupetinha e Ricardo Salles, entre outros parlamentares eleitos na esteira do Jair? Sumiram do mapa? Será que eles esqueceram que são pagos para representar o povo nas duas casas do Congresso?

Melhor que eles fiquem em silêncio. Pelo menos ainda não propuseram homenagear o governador Tarcísio de Freitas pelos grandes feitos mortuários em São Paulo. E, na agonia da ausência do Jair, querem transformar Tarcísio em candidato à Presidência da República. São ou não são sem noção? E o que querem? O que quiseram desde o primeiro dia de 2019: servir aos mais ricos, controlar os mais pobres e dizimar os antagônicos. Para nossa sorte e para deleite do Brasil, Deus não deu asas às cobras, muito menos visão total às corujas.

Aliás, falando em agonia, quanto tempo falta para a canetada final do ministro Alexandre de Moraes?

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