Tudo começou no domingo, 30, e vai até 5 de agosto. É o movimento promovido pelo Teatro e a Mitologia Cerratense de Seu Estrelo, apresentando obras escritas e ilustradas por Tico Magalhães. Com direito a show de Maciel Salú e presenças de parlamentares e gestores do Ministério da Cultura.
A motivação – e a movimentação – é grande. At´pe porque, o que se faz no Centro Tradicional de Invenção Cultural, sede do Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro, tem brilho. E os dois livros do capitão da trupe — O Teatro de Seu Estrelo e a reedição de O Mito do Calango Voador e Outras histórias do Cerrado, não ficam para trás.
O primeiro dia foi abrilhantado pela presença de Tião Soares, diretor de Promoção das Culturas Populares do Ministério da Cultura (MinC), além da deputada federal Érika Kokay e do deputado Distrital Gabriel Magno. O trio participou de uma roda de coversa, encerrada com a apresentação musical intimista de Maciel Salú e banda, que trouxe ao Distrito Federal um repertório cumbiero e bailante de Pernambuco.
O evento de lançamento, que contou com recurso de acessibilidade proporcionado pela intérprete de libras Tatiana Elizabeth, foi o primeiro passo de uma extensa e rica programação de uma semana oferecida pelo grupo candango para celebrar seu legado cultural. Até 5 de agosto, o Fuá do Terreiro promete, além do primeiro ato, peças teatrais de terreiro, rodas de conversa, aulas-espetáculos e show musical.
Na abertura do encontro, Tico Magalhães exaltou a potência das tradições populares como recurso de transformação pessoal e social, ao explicar sobre o porquê de plasmar em páginas escritas uma parte da produção do grupo cerratense. “A cultura popular é uma ferramenta que mestras e mestres deixaram para que a gente se reconquiste, para que a gente consiga se decoloniar um pouquinho. Ela tem esse poder de nos fazer mergulhar para dentro, de encontrar nossa ancestralidade, que muitas vezes parece estar no passado, mas que integra o presente”, disse.
Já Tião Soares, felicitou o grupo pela iniciativa e por sua importância para a transmissão dessas tradições. “Quero parabenizar, em nome de Tico Magalhães a toda essa construção coletiva de fazeres e saberes populares que nos enobrecem a cada dia, por meio da cultura como ‘desescondimento’ do conhecimento”, expressou.
Seu Estrelo aposta na criação, não espontânea, mas propositadamente criativa, de um mito para vislumbrar o inexplicável no Cerrado do DF, esse bioma rico em flora, fauna e “encantados”. Sua relação com a cidade nasce e é festejada a cada encontro em seu terreiro. Assim, celebram também a conexão entre a vida dos cidadãos e seus territórios.
“A cidade se movimenta e brinca. E ao se mover, se consolida enquanto território. Território de trança: trança de saber, de fazer, de desejos, de resistência, de afeto. E considerando que somos muito o chão onde pisamos, vale citar Paulo Freire, quem defende que não nascemos prontos, na verdade, nem saímos daqui prontos, vamos nos fazendo”, comentou Erika Kokay, ao fazer jus a essa relação dos estrelos com sua terra.
Maciel Salú, rabequeiro, cantor, compositor, mestre de maracatu-rural e militante das tradições populares, vem de uma das famílias mais expressivas das culturas ancestrais pernambucanas. Filho do grande Mestre Salustiano (1945-2008) e o nome mais expressivo da rabeca em sua geração, é recebido por Tico como um elo essencial entre os ensinamentos do passado e do presente. Antes da apresentação musical com seu grupo, participou do bate-papo, exaltando a importância de espaços como o Centro Tradicional de Invenção Cultural.
“Aqui se fomenta cultura, aqui se passa educação. E educação também é cultura. Não a consideramos brincadeira, mas sim investimento. Sempre acompanhei de perto o trabalho de meu pai para mantê-la viva. Então, estar aqui nessa casa de cultura é um prazer imenso, mais uma vez, porque vejo esse esforço de Seu Estrelo em manter nossa tradição viva”, afirmou Maciel..