Cada uma...
Tem gente querendo descolorir a caixa de lápis de cor
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em“Por que a cor da pele das pessoas é tão diferente?” Minha filha me fez essa pergunta dia desses, no caminho da colônia de férias. Ela tá pretinha, bronzeada do verão. Na hora, lembrei da lista de material escolar que tinha ido comprar semanas atrás e disse, sem hesitar: “Filha, é feito lápis de cor. Cada um é um. Quanto mais cores, mais bonita fica a caixa. A cor de pele também é assim… Deus fez a gente diferente e a gente precisa saber valorizar.”
Estou educando meus filhos para se sentirem bem na própria pele e para respeitarem as diferenças de cor, de raça e também do jeito de ser ou das escolhas que cada um faz pra vida. Mas, ao mesmo tempo, fora de casa, existe um movimento contrário que faz a gente achar que está remando contra a maré. Ele não vem das escolas, ainda bem, mas começa a invadir a nossa vida.
E daí se a pessoa é negra ou branca? Se é brasileira ou americana? Se é do Norte ou do Sul? E daí se eu gosto de azul e você prefere verde? E daí se é gay ou hétero? Qual o problema de alguém trabalhar honestamente e sem violência para defender milhares de pessoas que são ameaçadas quase diariamente? Qual o problema da caixa de lápis de cor ter 48 ou 60 unidades? Deveria ser simples assim.
Mas a diferença incomoda. Principalmente quem se sente ameaçado. Ainda assim, isso não nos dá o direito de reagir com violência. E ninguém deveria achar normal aplaudir qualquer manifestação de violência ou o medo.
Não temos as mesmas opiniões. Sempre haverá divergências. Até em família. Mas precisamos estender a compreensão sobre o respeito às diferenças pra fora da caixinha. Se eu te respeito, você deve(ria) me respeitar também. Não somos iguais. Mas por que, ainda assim, não pode ficar tudo bem?
Viver num país onde pessoas acham normal o crescimento da violência que leva um candidato à Presidência da República ser esfaqueado em campanha e outras milhares achem normal um deputado federal eleito pela terceira vez deixar o país por insistentes ameaças de morte é perder a noção do perigo. É ser intolerante. É tão absurdo como querer acabar com os diferentes tons de uma caixa de lápis de cor. Só porque não gosta de amarelo canarinho. Pior: é ver a democracia se esfarelar sem perceber.