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Odebrecht

Temer admite que delação cria um clima de tensão

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Daiene Cardoso, Luísa Martins e Elizabeth Lopes

Marta Nobre, Edição

O presidente da República, Michel Temer, reconheceu pela primeira vez em público, neste domingo, em entrevista coletiva, estar preocupado com os efeitos da delação da Odebrecht, que deverá atingir partidos e políticos de todas as legendas.

“Se dissesse que não há preocupação com a delação da Odebrecht, seria ingênuo. Claro que há preocupação de natureza institucional. Há preocupação, claro, não há dúvida que há”, disse o peemedebista, após o anúncio, ao lado dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), do veto dos poderes executivo e legislativo à anistia ao caixa 2.

Questionado sobre qual atitude pretende adotar, caso surjam nomes de ministros de sua gestão nas delações dos executivos da empreiteira, Temer foi cauteloso e destacou: “No tocante aos ministros, vou verificar o que vem. E, se vier, vamos verificar caso a caso.”

Lua de mel – Na entrevista, o presidente da República rechaçou que tivesse ocorrido um período de “lua de mel” de seu governo com o empresariado. E, portanto, não se pode dizer que esse período tenha chegado ao fim. Na sua avaliação, o que houve “foi muito fel pela estrada”. E continuou: “Houve gente que fez campanha contra, argumentativa e física.”

Segundo ele, a despeito deste cenário, a confiança vem crescendo aos poucos em razão de seu governo estar adotando as atitudes corretas para isso. “Não vejo críticas à equipe econômica, eventuais resultados (na economia) se darão no segundo semestre do ano que vem, nós não estamos parados, estamos trabalhando para gerar crescimento”, argumentou.

Juros – Michel Temer reconhece que a decisão sobre os juros é uma decisão técnica do Banco Central, mas citou que o governo tem conversado para a retomada da economia e, nesse esforço, também há a avaliação sobre a eventual redução do custo do crédito no Brasil. Isso, porém, não é tratado diretamente com o BC.

“Eu sei que sempre se coloca em pauta a questão dos juros. Num primeiro momento, houve uma pequena redução dos juros”, disse Temer, durante entrevista coletiva no início da tarde deste domingo. “É uma matéria que a Presidência da República não entra diretamente”, reforçou o presidente.

“Isso faz parte de avaliação técnica do Banco Central, mas evidentemente que o objetivo das conversas que tenho tido é a busca da eventual redução dos juros no País”, disse, sem detalhar quais seriam esses interlocutores.

Michel Temer durante coletiva de imprensa no Palácio do Planalto. Foto: Marcos Corrêa/PR

Michel Temer durante coletiva de imprensa no Palácio do Planalto. Foto: Marcos Corrêa/PR

Crime do Caixa 2 – O Planalto, a Câmara e o Senado vão barrar qualquer tentativa de anistia ao caixa 2, disse Michel Temer. Ele adiantou que está “examinando com muito cuidado” o perfil de quem irá ocupar a Secretaria de Governo, no lugar de Geddel Vieira Lima, que pediu demissão na sexta-feira, 25. No seu entender, é preciso alguém com “lisura absoluta” e com bom trânsito no Congresso Nacional para fazer a articulação política de seu governo.

Temer disse que “seria impossível não vetar uma matéria como a anistia ao caixa 2”. E que o anúncio feito neste domingo, 27, pelos dirigentes da Câmara, Senado e por ele próprio “desestimula qualquer movimento para fazer essa matéria tramitar no Congresso Nacional”. Lembrou, a propósito, que não foi só agora que chegou a essa conclusão, citando que já havia saído em defesa dos movimentos de rua em 2013 – “desde que não houvesse depredações do patrimônio público” – e na sexta-feira passada lembrou que falou a interlocutores que seria impossível o presidente da República sancionar uma matéria dessa natureza (anistia ao caixa 2). “Acordamos, eu, Renan e Maia que não há a menor condição de levar adiante essa proposta”, reiterou.

Indagado sobre a demora do executivo em definir a situação de Geddel, após as denúncias do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, Temer admitiu que “talvez se (Geddel) tivesse saído antes poderia ser melhor”, mas destacou que o desenrolar desse imbróglio não deve causar prejuízos ao governo. Na sua avaliação, o episódio Geddel/Calero ganhou uma “dimensão extraordinária”.

Na coletiva, Temer defendeu seu ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, dizendo que neste imbróglio ele apenas fez o que ele próprio disse: em caso de conflito, deve-se procurar a Advocacia Geral da União para arbitrar o caso. E destacou que não há necessidade em se falar em eventual demissão de Padilha.

Ainda na entrevista, o presidente da República disse que “aproveitando a gravação clandestina (que seu ex-ministro da Cultura disse que fez), talvez façamos do limão uma limonada institucional”. E anunciou que considera solicitar ao Gabinete de Segurança Institucional (GBI) que passe a gravar todas as audiências públicas em que ele esteja presente – e disponibilizar os áudios para acesso público.

Gravação perigosa – O presidente considerou uma “indignidade absoluta”, a possibilidade de uma de suas conversas com o ex-titular da Cultura Marcelo Calero ter sido gravada. “Com toda franqueza, gravar clandestinamente é desarrazoável. Um ministro gravar o presidente da República é gravíssimo, quase indigno”, emendou. E disse que jamais teria a coragem de gravar uma conversa com alguém

No encontro com os jornalistas, Temer disse que arbitrar conflitos é uma tarefa indispensável para o Presidente da República e foi isso que fez nas conversas com Calero. Mais de uma vez, o presidente da República disse que deseja que venha à público a eventual gravação de sua conversa com Calero “para mostrar que não patrocinei nenhum interesse privado.”.

Ainda sobre Calero, Temer disse que se tal gravação vier mesmo a público, ficará evidente que ele é cuidadoso com as palavras e que jamais falou algo inadequado às suas funções no comando do País. O peemedebista disse que ao ser procurado pelo ex-ministro da Cultura e ver que havia um conflito entre o Iphan da Bahia e o nacional, pediu que o seu ex-colaborador fizesse o melhor neste caso e informou-lhe que a lei prevê, em casos de conflito, que se ouça a Advocacia Geral da União (AGU).

“Eu estava arbitrando conflitos, que é o que mais faço na Presidência da República”. Segundo Temer, ele não vai mudar seu estilo por conta de episódios que ocorreram ou venham a ocorrer na gestão do País e frisou que não é autoritárioe possui um perfil conciliador e de arbitrar conflitos, que cultiva desde os 18 anos de idade. “Meu estilo sempre foi esse, não venham me dizer que devo tomar atitudes autoritárias. Não tenho esse temperamento e acho que é ruim para o Brasil uma visão centralizadora e autoritária, prezo a cultura política do diálogo, e é isso que tenho feito.”

Na coletiva, o presidente da República disse que está em caráter efetivo no comando do País há dois meses e meio e lembrou do cenário difícil que encontrou o País, com, recessão e desemprego em alta. “Não foi fácil aprovar o verdadeiro déficit fiscal, não foi fácil aprovar a emenda do Teto dos Gastos, DRU estava paralisada e, em pouco tempo, conseguimos aprovar na Câmara e no Senado”, disse, argumentando, porém, que “houve apoio extraordinário do Brasil às atitudes do executivo”. Ao falar da crise fiscal que atinge muitos Estados da federação, Temer falou que sua gestão compreende a “angústia dos Estados” na repatriação, mas o executivo pediu contrapartida. “Fizemos uma repactuação com os Estados.” Ao falar da reforma da Previdência, disse que irá se reunir com os sindicatos antes da proposta ser enviada ao Congresso Nacional.

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