Celso Lungaetti
Nova delação premiada vazada, novo alvoroço na política brasileira. Muita gente antevendo uma revanche contra Michel Temer, como se ele não fosse apenas um político profissional sem porte de estadista, nem carisma, nem nada que o distingua particularmente de milhares de outros que poderiam estar desempenhando o mesmo papel com desempenho equivalente. Não passa, enfim, do serviçal da vez da classe dominante.
Desta vez ele cairá? É impossível afirmar agora, pois a partida mal começou. Mas, quem vai ganhar o campeonato, isto nós sabemos: serão os de sempre.
Se os donos do Brasil chegarem a um consenso quanto a substituto, descartarão Temer. Se não houver um nome capaz de inspirar-lhes confiança, manterão Temer. É simples assim.
Nada de bom advirá para nós do jogo de cartas marcadas dos três Poderes. Decidida sua degola, ou Temer renuncia, ou o julgamento da chapa Dilma-Temer na Justiça Eleitoral, que se encaminhava para livrar a cara dele, tem o script alterado, condenando ambos.
São duas opções óbvias para se colocar a escolha do substituto nas mãos do Congresso Nacional, que, pela via indireta, elegerá presidente quem o sistema escolher. Com isto, sairia seis para a entrada de meia dúzia.
Fazer campanha por uma eleição direta, embora a Constituição não a preveja depois de completados dois anos de mandato? Quem disse que o povo está esperançoso e ansioso por votar como em 1984 (quando lhe parecia que, escorraçados os militares do poder, tudo melhoraria como que por encanto)? Hoje, pelo contrário, o pessimismo e o desencanto são generalizados. Dificilmente uma nova mobilização do tipo diretas-já reuniria as multidões de então.
De resto, face à acentuada desmoralização de todos os políticos que estiveram em evidência nos últimos e deploráveis tempos, é enorme a possibilidade de uma eleição direta —seja a tampão definida no texto constitucional, seja a antecipada com que muitos sonham, seja a marcada para o final de 2018—, levar ao poder um outsider como João Dória Jr. ou Jair Bolsonaro.
Está na hora de deixarmos de dar tanta importância ao que acontece em Brasília. É tão irrelevante quanto uma miragem no deserto. Presidente não passa de um miquinho amestrado da classe dominante. A burguesia está no poder e o presidente, de um jeito ou de outro, acaba sempre a ela servindo. Temos é de mudar a essência do poder, fazendo com que passe a priorizar o bem comum, e não mais a ganância e os privilégios de ínfimas minorias.
Estamos desperdiçando tempo desde a redemocratização; já são 32 anos jogados fora. Precisamos construir uma opção junto com o povo, travando as lutas do povo, até fazermos o capitalismo explodir pelas próprias contradições.
É isto que verdadeiramente importa. É esta a lição de casa que há bom tempo deixamos de fazer, desde então colhendo resultados ora pífios, ora desastrosos.