Carla Araújo
Em sua estreia em visitas oficiais na região Norte do Brasil, o presidente Michel Temer não quis falar com a imprensa na saída de uma cerimônia de assinatura para construção da Ponte Xambioá-São Geraldo. Num discurso protocolar, disse que faria propaganda do governo, que conseguiu unir o Brasil e criticou “abuso de autoridade”.
As críticas de Temer surgem um dia depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitar o pedido da defesa do peemedebista de suspender a atuação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. O pedido de suspeição foi reprovado por todos os nove ministros do Supremo.
Sem citar os imbróglios judiciais, Temer apenas repetiu o raciocínio que já disse outras vezes. “Nós não somos autoridades, somos autoridades constituídas. A única autoridade existente no sistema é a lei e a Constituição. Então, quando se fala em abuso de autoridade, eu costumo dizer que não é abuso de autoridade contra o presidente, contra o governador, contra o deputado, é quando alguém ultrapassa o limite da lei, dai é que há violação da autoridade, uma coisa que devemos evitar no Brasil”, disse.
Temer assinou o termo para a construção da ponte ao lado do governador do Estado, Marcelo Miranda (PMDB-TO), que é investigado e foi obrigado a depor no mês passado. Ele depôs no âmbito da Operação Convergência, da Polícia Federal, que apura pagamentos indevidos em obras de Infraestrutura no Estado.
Na cerimônia, Temer brincou com o ministro do Planejamento, que é do Tocantins, e disse que ouviu no avião a caminho de Xambioá que a demanda pela ponte era algo de mais de 30 anos. “Mas se o Dyogo (Oliveira) espera desde criança já são mais de 60 anos”, brincou. “Volto para Brasília com a alma incendiada para continuar a dirigir o País com apoio do povo”, disse o presidente no fim do seu discurso.
Em sua fala, Temer usou várias analogias com a palavra ponte, disse que o mote e o fio condutor de seu discurso seria esse. “Desde que assumi o governo vi que tínhamos que estabelecer várias pontes e a primeira foi com o Congresso Nacional”, afirmou. “Nós conseguimos com apoio do Congresso vencer uma recessão extraordinária”, completou.
Temer disse ainda que estabeleceu muitas pontes no País, “entre elas a pacificação entre os brasileiros” e repetiu que os anos na política já o fizeram identificar os aplausos que “vêm do coração”. “De todas as pontes que eu construí eu levo daqui a sensação que a ponte mais importante que eu vou construir é a que liga Xambioá a São Geraldo”, afirmou o presidente ressaltando que iria falar com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para ele não deixar faltar recursos para a obra.
Sem citar que a previsão de duração da obra, que deve ser iniciada apenas em janeiro, é de três anos, Temer falou que tinha o desejo de inaugurar a ponte antes do fim do seu governo. “Mas acho difícil”, ponderou.
Como tem feito em todas oportunidades, Temer exaltou os números da economia, a inflação, os juros em queda e disse que a tendência é que “eles caiam ainda mais”. O presidente lembrou ainda que a Bolsa de Valores atingiu nesta semana o maior patamar da história. “Estamos num processo que visa ao combate ao desemprego”, disse.
Temer afirmou que tem saído pouco do Brasil “em face a muitos compromissos”. Em um agrado à plateia, lembrou que fazia sua estreia na Região na cidade de Xambioá.
Obra – A cidade, que tem 11.645 habitantes, fica no Norte do Estado de Tocantins. A ponte ligará Xambioá a São Geraldo, no Pará. O governo anunciou um investimento total na obra de R$ 132 milhões, sendo que, segundo a assessoria do Palácio do Planalto, R$ 25 milhões para dar início às obras já estarão empenhados a partir da assinatura do presidente. O Ministério dos Transportes prevê oficialmente como montante total de investimento para a ponte e entorno R$ 280 milhões.
Para que o trajeto de 1.700 metros entre as duas cidades possa ser feito por meio da ponte, entretanto, a população ainda terá que esperar até 2021, já que a previsão é que as obras comecem apenas em janeiro do ano que vem e durem pelo menos três anos.
O senador Ataíde Oliveira (PSDB-TO), que é o presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da JBS, não participou da cerimônia.
Depois de assinar a ordem de serviço em Xambioá, Temer foi de helicóptero para o outro lado da margem onde também fará uma cerimônia.
Promessa antiga – O projeto faz parte da modernização da BR-153 e vai ser mais uma ligação entre os Estados de Tocantins e Pará. Atualmente, o trajeto é feito por caminhões e carros por meio de duas balsas que pertencem a uma mesma empresa. A obra integra o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e já estava prevista desde 2014, ainda no governo da ex-presidente Dilma Rousseff.
Em maio daquele ano, o governo lançou um pacote de investimento para obras no valor de R$ 8 bilhões e a ponte já era uma das previstas.
A senadora Kátia Abreu, que é do Tocantins e é uma voz dissonante no partido do presidente, o PMDB, também já usou a obra como palanque. Em setembro de 2014, durante um evento na cidade, a senadora garantiu recursos e disse, na época, que os R$ 150 milhões, já estariam integrados na rubrica PAC 2.
Descrença – A rotina da pequena Xambioá sofreu alterações por conta da esperada visita de Temer. Policiais e homens do Exército tomaram as ruas.
Nesta quarta-feira, 13, nos arredores da cidade, helicópteros do Exército fizeram ações testes que chamaram a atenção da população local.
Questionados sobre a expectativa da visita do presidente e da possível construção da ponte, muitos se mostraram descrentes de ver a situação mudar.