Ricardo Brito
Após protagonizarem uma série de acusações públicas, o vice-presidente da República e presidente do PMDB, Michel Temer, reuniu-se na terça-feira, 2, com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para fechar um acordo que garante a sua permanência à frente do comando do partido. Ficou acertado que na convenção partidária, marcada para março, haverá o lançamento de uma chapa única e o grupo peemedebista ligado a Renan dividirá com aliados de Temer os principais cargos da Executiva da legenda.
No fim do ano passado, Renan chegou a articular com aliados o lançamento de uma chapa para disputar contra o atual presidente do PMDB, no cargo desde 2001. Os aliados do presidente do Senado reclamavam que Temer teria se aliado ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para patrocinar o impeachment da presidente Dilma Rousseff, de quem Renan é aliado, e alijou os senadores do partido da discussão.
Contudo, conforme revelou o Broadcast Político no último dia 12, pessoas ligadas a Renan admitiram que o avanço da Operação Lava Jato contra o peemedebista dificultava a viabilização de um nome para rivalizar com o atual presidente do partido. Renan é alvo de seis inquéritos da operação e o nome mais cotado para concorrer contra Temer, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), atual 3º vice-presidente do partido, também é investigado na operação.
Sob o risco de não fazer mais parte da cúpula partidária em caso de disputa, o pragmatismo do grupo de Renan falou mais alto. Jucá e o líder do PMDB no Senado e atual tesoureiro da legenda, Eunício Oliveira (CE), que são próximos ao atual presidente do partido, conversaram com Temer e aliados dele durante o recesso parlamentar a fim de acertar as desavenças entre os dois lados. Nessa tarefa de reaproximação, ambos estiveram com o vice até uma da madrugada, antes da conversa definitiva entre Temer e Renan.
“Renan e Michel tiveram uma conversa boa, esclareceram as coisas e se acertaram”, afirmou um aliado do presidente do Senado.
Contribuiu também para selar o acordo entre as duas alas o fato de o vice-presidente passar a falar, em privado e em público, que o impeachment de Dilma havia perdido força. Aliado da presidente, Renan tem se posicionado contra o afastamento dela.
Pelo acerto, a tendência é que a nova composição da cúpula do PMDB pelos próximos dois anos tenha, além da permanência de Temer, Jucá como o 1º vice-presidente do partido, cargo hoje ocupado pelo senador Valdir Raupp (PMDB-RO), que pode ser deslocado para outra vice-presidência. Eunício deve permanecer na tesouraria do partido, posto que está há 10 anos. Outros cargos da direção serão partilhados por aliados de Temer e de Renan. Ao menos por ora, publicamente ninguém falará da divisão dos postos da direção.