Pedro Venceslau
Após o Superior Tribunal Federal (STF) protocolar, na quinta-feira passada, a denúncia por corrupção passiva feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer, seus aliados no Congresso Nacional começaram uma batalha política que hoje seria vencida pelo Palácio do Planalto Pelo menos é essa a avaliação da consultoria Arko Advice e do Departamento Intersindical de Análise Parlamentar (Diap), organizações especializadas em avaliar o comportamento do Congresso.
Pela contabilidade alcançada pelas entidades, o peemedebista tem os 172 votos necessários para impedir que a Casa aprove a admissibilidade da investigação do Supremo no plenário, apesar da agenda negativa envolvendo o governo. As previsões divergem, porém, no caso de a votação ser prorrogada e entrar no segundo semestre. O sociólogo Murilo Aragão, da Arko Advice, disse acreditar que a denúncia da PGR não vai prosperar na Câmara dos Deputados sem fatos novos.
“A denúncia é vista [no Congresso] mais como um documento político do que jurídico. Ela é tratada pelos deputados como uma guerra aberta ao campo político. Seria portanto uma carta branca para delação virar prova sem prova”, disse Aragão.
A aposta da oposição de que a pressão dos eleitores na base pode virar o placar contra Temer é questionada por Aragão. “Dois terços dos deputados são carregados pelo quociente eleitoral. A maioria não é patrulhada pelas redes sociais como os parlamentares dos grandes centros eleitos por voto de opinião. Temer tem uma desaprovação desmobilizada”, disse o sociólogo.
Pela regra em vigor, os candidatos mais votados preenchem as cadeiras recebidas pelos partidos ou coligações com os “restos” de seus votos.
Ruas silenciosas – Ao contrário do que ocorreu às vésperas do impeachment de Dilma Rousseff, os movimentos de rua contra o petismo e a corrupção dessa vez não marcaram manifestações nacionais e deixaram de pressionar os parlamentares em suas bases. A ação de grupos como o Vem Pra Rua e o MBL se resume hoje a notas oficiais protocolares contra Temer. Já organizações de movimentos sociais ligados ao campo da oposição, como CUT, MST e MTST, focaram sua atuação contra as reformas e deixaram o “fora, Temer” em segundo plano.
“As ruas poderiam arbitrar contra Temer, mas não vejo essa mobilização. Já Dilma tinha desaprovação mobilizada”, afirmou Aragão.
Para o analista político Antônio Augusto Queiroz, diretor do Diap, o tempo joga contra a estratégia do presidente Michel Temer e a pressão da base vai pesar muito. “Hoje o presidente teria os 172 votos necessários, mas no segundo semestre seria diferente. Quanto mais dura a crise, mais ele fica vulnerável e menos tem a oferecer aos deputados”, afirmou. Ainda de acordo com Queiroz, na hora em que o microfone for aberto no plenário e o deputado tiver de dizer que apoia o governo, será difícil manter a lealdade.
Protestos solitários – Uma mulher tentou invadir, na madrugada de ontem, o Palácio do Jaburu, residência do presidente Michel Temer, que estava em casa com a família. Segundo o Gabinete de Segurança Institucional, a mulher, “aparentemente embriagada”, pulou a cerca de segurança. Em seguida, foi imobilizada e detida no estacionamento. Seu nome não foi revelado e ela foi liberada. Na quarta-feira, um garoto de 15 anos derrubou o portão de entrada do Alvorada.