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Forças divididas

Temer quer centrais aliadas barrando a CUT

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Pedro Venceslau e Valmar Hupsel Filho

O presidente Michel Temer mobiliza a Força e a União Geral dos Trabalhadores (UGT) para tentar rachar o movimento sindical, reduzir a oposição às reformas da Previdência e trabalhista e esvaziar ações contra o governo planejadas pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), a maior central brasileira e ligada ao PT. Até o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, deverá conversar com sindicalistas aliados para barrar eventual impacto negativo das propostas entre os trabalhadores.

O governo espera que as duas centrais, que juntas superam a CUT em número de sindicatos filiados, ajudem ao menos a “embalar” o discurso sobre a necessidade das reformas. Em troca, o Planalto deverá ceder às reivindicações dos aliados e ampliar seus espaços na gestão.

Após ser recebido em audiência privada de 40 minutos com Temer na quarta-feira, 9, o presidente da UGT, Ricardo Patah, saiu do encontro com o compromisso de levar Meirelles a uma plenária na sede da entidade em São Paulo. A exemplo do titular da Fazenda, Patah é filiado ao PSD de Gilberto Kassab, atual ministro de Ciência, Tecnologia e Comunicações.

“Faremos o encontro daqui a uns dez dias. Será uma reunião grande. O Michel gostou da ideia. Ele quer que o debate com a equipe econômica não se limite ao meio empresarial. A sociedade tem de participar”, afirmou Patah ao jornal O Estado de S. Paulo

“Vou chamar todos os presidentes estaduais para acompanhar a fala do ministro Meirelles. Vamos nesse diálogo superar as dúvidas sobre a retirada de direitos. Nossa relação com o governo é respeitosa. Não vamos ser contra apenas por sermos contra”, disse Patah. A assessoria de Meirelles informou que o encontro com os sindicalistas ainda não foi marcado.

Patah disse também que Temer pretende enviar a reforma da Previdência ao Congresso Nacional no dia 3 de dezembro e a trabalhista no começo do próximo ano.

O primeiro triunfo da estratégia do presidente já foi obtido com o esvaziamento do chamado Dia Nacional de Greve, promovido pela CUT na sexta-feira. A UGT e a Força optaram por não participar. Em vez disso, marcaram uma manifestação para o próximo dia 25. “Nós falamos para a CUT que não iríamos, e a data era dia 25. Até porque a data de hoje (sexta-feira) ia ter ‘fora, Temer’, e isso para a gente é coisa do passado”, afirmou o deputado Paulinho da Força (SD-SP).

A manifestação do dia 25 vai tratar de dois temas que, na avaliação do Planalto, serão definidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF): a terceirização e a prevalência do acordado sobre o legislado em questões trabalhistas. A expectativa da equipe econômica é de que pelo menos metade da reforma trabalhista seja resolvida na Justiça, o que eliminaria dois problemas: livraria o governo Temer do desgaste e esvaziaria a oposição.

“Não há a possibilidade de se fazer greve geral. Iríamos ficar na rua falando de greve geral e o povo trabalhando. Para se fazer greve, você tem de ter motivo. E não temos”, disse Paulinho.

Juntas, a UGT e a Força têm 2.892 entidades, contra 2.319 da CUT, que reúne mais de 30% dos sindicalizados. Incentivadas pelo Planalto, Força e UGT cogitaram até uma fusão há alguns meses, mas a ideia, por enquanto, não avançou.

Segundo um interlocutor do governo no Congresso, a ideia é que as entidades cumpram na gestão Temer o mesmo papel que a CUT exerceu nos governos do PT: críticas pontuais combinadas com o apoio institucional e veto ao “fora, Temer”.

“Estaremos em contato com as centrais sindicais para dirimir quaisquer arestas que tiverem na proposta de reforma trabalhista que o governo pretende encaminhar. E aí estão incluídas todas elas, até mesmo a CUT, se quiser conversar”, disse ao Estado o ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima.

Enquanto recebe o apoio dessas duas centrais na base, Temer é pressionado a aumentar o espaço na administração federal dos partidos ligados à Força e à UGT.

Líder da Força, Paulinho quer que a Secretaria de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário, atrelada à Casa Civil, volte a ter status de ministério. “Houve um compromisso do presidente Michel Temer de transformar em ministério. Ele nos pediu para aguardar um pouco e estamos aguardando que ele nos chame”, disse

Antes mesmo de o governo atender ao pedido de Paulinho e criar secretarias ligadas à Casa Civil para tratar de questões fundiárias, o presidente do Solidariedade já havia indicado ao Planalto os nomes para ocupar diversas posições no governo.

Dirigentes de centrais da oposição consideram que tanto a Força Sindical quanto a União Geral dos Trabalhadores (UGT) têm agido de forma dúbia para evitar a perda de apoio na base em função da aproximação com o governo Michel Temer. Eles citam como exemplo a reunião entre as entidades para a realização de uma greve geral, programada para sexta-feira, 11.

Um sindicalista da Central Única dos Trabalhadores (CUT) disse que os presidentes da Força e da UGT chegaram a afirmar que estavam participando da reunião para sinalizar a seus associados que apoiavam o ato, mas informaram na ocasião que não iriam participar, como de fato aconteceu.

O deputado Paulinho da Força (SD-SP), presidente da Força, afirmou que na reunião ficou definido o dia 25 como o dia do ato nacional pela garantia dos direitos trabalhistas. A data, segundo ele, foi decidida entre diretores de todas as entidades, mas a CUT foi pressionada pela base a antecipar o ato.

Adilson Araújo, presidente da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), ligada ao PCdoB, mas com presença também do PDT e PT, disse à reportagem que o alinhamento da UGT e Força com governo não tem respaldo das bases. “Vamos disputar essas bases. O trabalhador não foi consultado sobre a aproximação da Força e UGT com o governo.” Adilson afirmou que a CTB e as demais centrais também querem manter o diálogo aberto com o governo.

Em discurso nas plenárias sindicais da Força, o metalúrgico Miguel Torres, vice-presidente da entidade, subiu o tom contra o governo Temer para evitar uma migração de sindicatos para a CUT.

“Não vamos admitir perda de direitos. O governo precisa tomar algumas providências antes das reformas, como taxar grandes fortunas, lucros e dividendos.” A CUT afirmou que já há migração de sindicatos para a sua base. Paulinho, porém, negou.

estadao

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