Carla Araújo, Thiago Faria, Rafael Moraes Moura, Bernardo Gonzaga e Mariana Machado
Aliados do presidente Michel Temer avaliaram que a decisão do juiz Sergio Moro de condenar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ser positiva para o governo já que tiraria o Palácio do Planalto do foco da crise política. A posição, no entanto, enfrenta divergência dentro do governo. Parte dos auxiliares vê com cautela a sentença.
Para alguns interlocutores de Temer, com Lula no foco do noticiário político, a oposição concentrará esforços na defesa do petista e as críticas ao presidente perderiam fôlego. Por outro lado, um auxiliar reconhece que a decisão mostra que há mudança de paradigma, apontando que políticos estão cada vez mais sujeitos a condenações.
A preocupação do Planalto envolve, além de Temer, os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), alvos da Operação Lava Jato no âmbito do Supremo Tribunal Federal. Há ainda a avaliação de que é preciso cautela ao se posicionar a favor ou contra da decisão já que políticos estão em disputa com o Ministério Público Federal. Após ser denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, Temer tem feito acusações de abuso por parte do MPF.
Oficialmente, o Planalto não comentou a decisão de Moro.
Congresso – Vice-líder do PSDB na Câmara, o deputado Pedro Cunha Lima (PSDB-PB) disse que a condenação é um “ganho institucional e democrático”. “O principal ganho é que mostra que ninguém está acima da lei”, afirmou.
Já aliados de Lula acreditam que a condenação vai ser revertida em segunda instância por falta de provas. Petistas dizem que o futuro do processo vai ter o mesmo destino do ex-tesoureiro João Vaccari, que foi absolvido no mês passado pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região. “A condenação é política e não jurídica”, disse o deputado Henrique Fontana (PT-RS).
“É subestimar a inteligência do povo achar que essa condenação aconteceu por acaso neste momento”, disse a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), fazendo referência à articulação do governo para garantir maioria na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, que discute a admissibilidade ou não da denúncia contra Temer.
Aliado de governos petistas, mas apontado como um dos responsáveis pelo impeachment de Dilma Rousseff, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) saiu em defesa de Lula no plenário. Sem citar o petista, criticou o que chamou de “condenação sem provas”.
A defesa de Lula por Renan ocorre após o peemedebista adotar uma postura crítica ao governo Temer, principalmente em relação às reformas. A reaproximação com o petista, porém, tem cálculo político – a preocupação com a reeleição ao Senado.