Passados dois anos, sete meses e alguns dias de governo, parece que nossas principais autoridades e a maioria do povo brasileiro finalmente começam a despertar para o óbvio: o Brasil segue desgovernado e com uma forte tendência de caos absoluto. O distanciamento da realidade, o afastamento do mundo e a incapacidade de reação nos levam a uma reflexão muito atual e com endereço mais do que apropriado. “Às vezes, nosso principal problema não está nos obstáculos que temos de enfrentar, mas na nossa teimosia em querermos resolver tudo sozinhos”. Seguimos sob uma liderança ditatorial, benevolente dom o ódio e pródiga em descrições. É sem tato político, sem noção de micro ou macroeconomia, sem conhecimento do país que lidera, sem apreço pelo seu povo e, sobretudo, sem apego a aconselhamentos de quem entende do riscado.
O resultado não poderia ser outro. Com algum pesar, somos obrigados a admitir que o Brasil está sob o comando de um oficial raso e reformado a bem do serviço, cujos feitos em benefício do país certamente não preencherão no futuro meia dúzia de páginas de um livreto de bolso. Quanto aos malfeitos, se houver interesse, editores provavelmente produzirão enciclopédias variadas e com verbetes de A de arroubos a Z de zero à esquerda. Talvez os mais citados sejam o B de bravata pós-desfile de tanques de guerra e veículos blindados e o F de fracasso do voto impresso para as eleições de 2022.
Ambos foram alvos de críticas da imprensa e de governos internacionais e, pelo menos temporariamente, confirmaram a Terra Brasilis como um pária mundial, uma piada, uma república de bananas, conforme referência do jornal britânico The Guardian. Sem preocupação com suscetibilidades, as respostas aos devaneios golpistas de Jair Bolsonaro chegaram ao Palácio do Planalto com assinaturas de remetentes de várias partes do mundo e de correntes políticas diversas. Ex-presidente, Luiz Inácio chamou a marcha de tanques de ‘cena patética’. E realmente foi. Governador de São Paulo, João Dória afirmou que o país passou de “vergonha nacional” para vergonha internacional”. Também é verdade. E essa afirmação foi seguida de uma charge do Washington Post chamando o presidente brasileiro de “ditador”.
Parece brincadeira. E, para os plantonistas do bolsonarismo certamente foi “sacanagem” da TV Globo lançar justamente agora o novo folhetim épico das seis, batizado oportunamente de Nos tempos do imperador, que estreiou nessa segunda-feira (09), um dia antes do desfile de blindados e armamentos. Como o protagonista da trama é o Brasil, tudo a ver com nossa atualidade. Em uma das primeiras cenas da novela, os autores – Thereza Falcão e Alessandro Marson – postaram o que hoje cerca de 75% dos brasileiros verbalizam diariamente, ainda que silenciosamente. Refiro-me à fala de Dom Pedro II para o ditador paraguaio, general Solano Lopes.
“O Brasil nunca se renderá a um ditador. Os filhos deste país cuidarão dele para sempre. Podem até tombar algumas vezes, mas vão se levantar, em nome do Brasil, em nome da liberdade”. Eles são muitos e nascem a cada dia, dispostos a lutar pela nação. E eu, general, mesmo depois de morto, viverei em cada um deles”. A diferença entre o tempo do Império e a República de Bananas é simples. Parafraseando o escritor e amigo Aguinaldo Tadeu, autor do livro “A mulher que proclamou a República”, Pedro II é o maior brasileiro de todos as épocas. Quanto ao imperador de hoje, melhor deixá-lo por conta de nossos principais analistas políticos. Ele parece bem próximo do fim,
“Parada militar foi fiasco nas redes sociais”, “Desfile vazio de Bolsonaro aumenta pressão sobre comandante do Exército”, “Com micareta de blindados, Bolsonaro passa recibo de fragilidade do governo”, “Criminoso, desfile golpista é intimidação para fugir da polícia e da CPI”, “A marcha da insensatez”, “Ministro da Defesa se preocupa em salvar a própria pele” e “Imprensa internacional critica desfile e cita ‘cenário a la Trump”. Pior ainda foi a reação do presidente do Senado e do Congresso, Rogério Pacheco (DEM-MG): “Ninguém vai intimidar o Parlamento. O Congresso Nacional não vai se submeter a “arroubos, bravatas, a ações que definitivamente não calham no estado democrático de direito”. E os congressistas de fato não se submeteram. Mostraram que, juntos, podemos vencer o ódio, os assédios on-line, as fake news e até os tanques.