Piada final
Tempo é implacável com o último sorriso do bobo, da corte ou não

Houve um tempo em que ele acreditou que bastava um chapéu colorido e um repertório afiado para ser indispensável. Espalhava suas piadas, fazia troça de quem podia e de quem não devia, convencido de que, no fundo, todos precisavam de um bobo.
Mas o tempo foi implacável.
As risadas rarearam. O que antes soava sagaz virou repetitivo, previsível. A graça foi se esvaindo até restar apenas o eco de um riso que ninguém mais acompanhava. Ele insistiu, forçou a piada, elevou o tom, apostou na provocação – qualquer coisa para arrancar ao menos um olhar. Mas os olhares desviavam, impacientes, desinteressados.
Ainda tentou acreditar que era um período passageiro, que em breve voltariam a notar sua importância. Mas o silêncio à sua volta não era descuido. Era esquecimento.
Foi então que lhe ocorreu um pensamento inquietante: e se, no fundo, nunca tivesse sido engraçado? E se as risadas que julgava conquistar não fossem méritos seus, mas apenas reflexos de um tempo em que riam de qualquer coisa? Talvez nunca tivessem rido com ele, mas dele. Talvez sempre tivesse sido apenas um barulho conveniente, uma distração descartável.
E assim, um dia, ao tropeçar em sua própria sombra, enxergou o que nunca quis ver.
O mundo seguia em frente, indiferente ao seu espetáculo. Nem mesmo para o papel de bobo ele servia mais.
E foi assim que entendeu que a última piada era ele.
