Gilberto Amendola
Desde o dia em que foi definitivamente afastada do cargo de presidente da República, Dilma Rousseff parece empenhada em se manter como voz da esquerda e, ao mesmo tempo, levar uma vida discreta – ou quase. Na agenda da petista, entrevistas para veículos estrangeiros (como a concedida para a TV Al Jazeera, por exemplo) e poucas aparições públicas (velório de Fidel Castro foi uma delas).
Na maior parte do tempo, agora, como já era esperado, Dilma vive na “planície” de Porto Alegre, sem os holofotes da época de Planalto.
O jeito “quase comum” de levar a vida acabou tirando de foco aquelas características que, até então, eram mais caricaturáveis na personalidade da presidente cassada – como o fato de ser uma pessoa assertiva, impaciente, brava e não muito boa de discursos Durante os anos em que esteve no governo, esses “elementos” formavam o material sobre o qual artistas se debruçavam para criar versões humorísticas da petista.
Mas e agora? Sem o cargo, sem performances midiáticas, sem saudações à mandioca (como fez durante a cerimônia de abertura dos jogos indígenas), Dilma não cumpre mais a função de qualquer figura pública relevante: a de produzir gafes. Ou seja, será que a personagem Dilma Rousseff está tendo o mesmo destino da ex-presidente? Será que suas versões estereotipadas também estão saindo de cena? Artistas que ainda “fazem” a presidente dizem que não.
O ator Gustavo Mendes assumiu o hiato na carreira política de Dilma e recebeu a reportagem de pijama – e com o famoso terninho vermelho em repouso. “Não parei com ela. Eu continuo fazendo a Dilma, o público pede muito. Ainda existe uma demanda por Dilma Rousseff.” Além de interpretá-la em seus shows, Mendes mantém um canal no YouTube com uma série de quadros tendo a ex-presidente como protagonista. Na maioria das vez, dá voz a uma Dilma que parte para o ataque virulento contra Michel Temer e o PMDB.
Mendes diz que começou a imitar a então presidente “meio que sem querer” – principalmente depois de passar pelo bullying de amigos próximos que diziam que ele era fisicamente parecido com ela, quando Dilma ainda era ministra.
“Tem uma identificação minha com ela que é real. Durante o processo de impeachment fui criando tudo conforme as coisas iam acontecendo. Foi difícil não ser afetado por tudo aquilo. Tinha que lembrar sempre que o que eu fazia era humor e não política”, afirma o ator, que diz vir de uma família de mulheres fortes.
Mendes teve a oportunidade de se encontrar com Dilma em um jantar na casa da deputada Jandira Feghali, então candidata do PCdoB à prefeitura do Rio. No encontro, emocionou-se e imitou a petista para a própria. “Ela gostou, disse que já conhecia minha imitação e senti que ficou aliviada em me conhecer.”
‘Irmã’ – A atriz Mila Ribeiro começou a imitar a presidente cassada na Terça Insana (show de humor de grande sucesso em São Paulo). Aliás, não era ainda a Dilma, mas uma “irmã” dela, a Vilma. Com Vilma, Mila falava de política sem de fato assumir a persona da presidente. A virada de Vilma para Dilma ocorreu quando ela foi convidada para viver a personagem no cinema, no filme Até Que A Sorte Nos Separe 3. “Meu teste foi por telefone, eu comecei a falar e pronto: o papel era meu”, conta.
Mila diz que busca o lado humano da personagem. “Não é sobre política. Eu nem voto. Mas eu defendo a personagem que eu faço. A minha Dilma é humanizada. Não sou um homem caricaturizando uma mulher.” Na opinião da atriz, uma característica de Dilma é a solidão. “Me impressiona como ela enfrentou tudo isso sozinha. Não acho que ela tenha muitos amigos. O (ex-presidente) Lula não é um amigo dela. O ‘tchau, querida’ é uma coisa muito emblemática.”
Já no canal pago Multishow, no programa que faz com o humorista Tom Cavalcanti, Mila diz que chegou a sentir “dores no ciático” por ler ou ouvir tantos impropérios contra a ex-presidente. A performance da atriz tem agradado tanto que sua personagem estará na próxima temporada do Multi Tom. “Meu sonho seria encontrá-la. Fazer uma cena com ela. Seria um grande encontro “