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Parábola da conspiração

Teoria do esvaziamento ensina a recuar enquanto há tempo

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Junior*

Muito comuns na literatura oriental, as parábolas consistem em histórias que pretendem trazer algum ensinamento de vida. São textos narrativos, às vezes alegóricos, com estrutura parecida com a dos contos. São simbolismos com significados específicos para cada elemento da história. Por isso, natural e comumente elas se confundem com as metáforas. Entendam como quiserem, mas, na prática, as parábolas contêm elementos extraídos de eventos e fatos da vida cotidiana e na qual se ilustra uma verdade moral ou espiritual. Quem não se lembra da parábola do filho pródigo, isto é, do desperdiçador? É a história de um pai e dois filhos. Resumidamente, em certa altura da vida, o filho mais novo pede ao homem sua parte na herança e parte para terras distantes, gastando tudo que ganhou em pecados e perdições, sem pensar no dia de amanhã. Volta arrependido, mas sem fortuna e sem respeito.

No dia a dia, nem sempre é necessário mudar o rumo para descobrirmos as belezas do caminho. Fundamental é que aprendamos com os erros. Representante pronto e acabado da extrema direita, o atual presidente da República pode ser citado como protagonista ou essência de qualquer parábola. O governo está no modo à espera de um milagre, mas ele insiste em se mostrar milagreiro. E não há meio de informá-lo sobre a verdade do Brasil pós-pandemia e com mais de 612 mil mortos em decorrência de uma gripezinha inventada pelos chineses e contra a qual só despertamos depois de o vírus se transformar em potencial candidato à derrocada sanitário-econômica e após o Brasil do sorriso e da alegria virar pária mundial, ser isolado como cão sarnento.

Difícil entender as razões que levam um ser humano sem vocação alguma para o poder querer ser o dono do mundo. Pior foi tentar – e não conseguir, é claro – se mostrar como paladino da moralidade. Todos os seus discursos viraram fakes, inclusive e sobretudo os que pregavam a luta contra a corrupção. No entanto, é fácil afirmar que ser presidente não é para qualquer um. É uma posição destinada aos bons de espírito, de raciocínio, conversa, conhecimento e sensatez. Destina-se principalmente àqueles que agem como na parábola do Bom Samaritano. No sentido oposto, há os que, além de não dispor de nenhum desses predicados, pensam como tiranos e insanamente acreditam ser reis ainda que de castelos alheios.

Dependendo apenas do tempo, a esses restarão o ostracismo, o abandono e a certeza de que nunca serão homens de bem. Afinal, nas relações humanas e políticas, quando você é o único certo, há uma única certeza: você é o único errado. É o cenário em que as almas cambaleantes e desnorteadas dos brasileiros sonhadores estão atoladas até a medula. Desnorteado, frágil, com os quatro filhos alvos de investigações policiais, cada vez mais isolado e com dificuldades insolúveis de encontrar um partido para chamar de seu, o capitão presidente patina em suas próprias idiossincrasias. E agora, além de Luiz Inácio, tem na sua cola o ex-juiz que defenestrou do governo sem dó nem piedade. O problema é sério e, tudo indica, com sequelas inimagináveis pelo principal ocupante e pelos vassalos das baronices da Presidência da República.

Deus Pais Todo Poderoso tem ajudado seu povo sofrido e finalmente a ficha começou a cair pelos lados do Palácio do Planalto. Incomodado pelo absurdo crescimento do apoio de expressiva parcela do eleitorado a Luiz Inácio, o governo do cercadinho está apavorado com a chegada de Sérgio Moro ao palco político do ano que vem, com a simpatia pública de numerosos membros do staff de Jair Messias, entre eles o vice-presidente Hamillton Mourão, os ex-ministros Carlos Alberto dos Santos Cruz e Luiz Henrique Mandetta e os senadores Eduardo Girão (CE) e Marcos do Val (ES), ambos filiados ao Podemos, partido ao qual Moro se vinculou há uma semana.

Por conta disso tudo, sou obrigado a recorrer a uma parábola própria, a da conspiração. E não se trata de uma teoria barata e sem fundamento. Sem medo de errar, adiro à tese de que Bolsonaro, esvaziado politicamente e longe do bastão de mito de barro, provavelmente não será candidato à reeleição, pois sabe que vai perder. Deverá abandonar o pleito e buscar apoio para tentar uma vaga na Câmara ou no Senado, casas que, caso consiga os votos necessários, lhe garantirão a manutenção da imunidade. Na verdade, a da impunidade. Por enquanto, vale refletir sobre a parábola do sábio, cuja conclusão diz que, “para fazer deste mundo um lugar feliz para se viver, é melhor você mudar a si próprio e não o mundo”. A hora é de recuar enquanto há tempo.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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