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Teoria do esvaziamento ensina a recuar enquanto há tempo

Muito comuns na literatura oriental, as parábolas consistem em histórias que pretendem trazer algum ensinamento de vida. São textos narrativos, às vezes alegóricos, com estrutura parecida com a dos contos. São simbolismos com significados específicos para cada elemento da história. Por isso, natural e comumente elas se confundem com as metáforas. Entendam como quiserem, mas, na prática, as parábolas contêm elementos extraídos de eventos e fatos da vida cotidiana e na qual se ilustra uma verdade moral ou espiritual. Quem não se lembra da parábola do filho pródigo, isto é, do desperdiçador? É a história de um pai e dois filhos. Resumidamente, em certa altura da vida, o filho mais novo pede ao homem sua parte na herança e parte para terras distantes, gastando tudo que ganhou em pecados e perdições, sem pensar no dia de amanhã. Volta arrependido, mas sem fortuna e sem respeito.

No dia a dia, nem sempre é necessário mudar o rumo para descobrirmos as belezas do caminho. Fundamental é que aprendamos com os erros. Representante pronto e acabado da extrema direita, o atual presidente da República pode ser citado como protagonista ou essência de qualquer parábola. O governo está no modo à espera de um milagre, mas ele insiste em se mostrar milagreiro. E não há meio de informá-lo sobre a verdade do Brasil pós-pandemia e com mais de 612 mil mortos em decorrência de uma gripezinha inventada pelos chineses e contra a qual só despertamos depois de o vírus se transformar em potencial candidato à derrocada sanitário-econômica e após o Brasil do sorriso e da alegria virar pária mundial, ser isolado como cão sarnento.

Difícil entender as razões que levam um ser humano sem vocação alguma para o poder querer ser o dono do mundo. Pior foi tentar – e não conseguir, é claro – se mostrar como paladino da moralidade. Todos os seus discursos viraram fakes, inclusive e sobretudo os que pregavam a luta contra a corrupção. No entanto, é fácil afirmar que ser presidente não é para qualquer um. É uma posição destinada aos bons de espírito, de raciocínio, conversa, conhecimento e sensatez. Destina-se principalmente àqueles que agem como na parábola do Bom Samaritano. No sentido oposto, há os que, além de não dispor de nenhum desses predicados, pensam como tiranos e insanamente acreditam ser reis ainda que de castelos alheios.

Dependendo apenas do tempo, a esses restarão o ostracismo, o abandono e a certeza de que nunca serão homens de bem. Afinal, nas relações humanas e políticas, quando você é o único certo, há uma única certeza: você é o único errado. É o cenário em que as almas cambaleantes e desnorteadas dos brasileiros sonhadores estão atoladas até a medula. Desnorteado, frágil, com os quatro filhos alvos de investigações policiais, cada vez mais isolado e com dificuldades insolúveis de encontrar um partido para chamar de seu, o capitão presidente patina em suas próprias idiossincrasias. E agora, além de Luiz Inácio, tem na sua cola o ex-juiz que defenestrou do governo sem dó nem piedade. O problema é sério e, tudo indica, com sequelas inimagináveis pelo principal ocupante e pelos vassalos das baronices da Presidência da República.

Deus Pais Todo Poderoso tem ajudado seu povo sofrido e finalmente a ficha começou a cair pelos lados do Palácio do Planalto. Incomodado pelo absurdo crescimento do apoio de expressiva parcela do eleitorado a Luiz Inácio, o governo do cercadinho está apavorado com a chegada de Sérgio Moro ao palco político do ano que vem, com a simpatia pública de numerosos membros do staff de Jair Messias, entre eles o vice-presidente Hamillton Mourão, os ex-ministros Carlos Alberto dos Santos Cruz e Luiz Henrique Mandetta e os senadores Eduardo Girão (CE) e Marcos do Val (ES), ambos filiados ao Podemos, partido ao qual Moro se vinculou há uma semana.

Por conta disso tudo, sou obrigado a recorrer a uma parábola própria, a da conspiração. E não se trata de uma teoria barata e sem fundamento. Sem medo de errar, adiro à tese de que Bolsonaro, esvaziado politicamente e longe do bastão de mito de barro, provavelmente não será candidato à reeleição, pois sabe que vai perder. Deverá abandonar o pleito e buscar apoio para tentar uma vaga na Câmara ou no Senado, casas que, caso consiga os votos necessários, lhe garantirão a manutenção da imunidade. Na verdade, a da impunidade. Por enquanto, vale refletir sobre a parábola do sábio, cuja conclusão diz que, “para fazer deste mundo um lugar feliz para se viver, é melhor você mudar a si próprio e não o mundo”. A hora é de recuar enquanto há tempo.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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