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Terceira via dividida não chega sequer à esquina do Planalto

A um ano do pleito presidencial de 2022, os extremos representados por Jair Bolsonaro à direita e Luiz Inácio à esquerda continuam polarizando e liderando todas as pesquisas de intenção de votos. Isso quer dizer que a eleição está decidida? Obviamente que não. Entretanto, a realidade brasileira não está distante disso, considerando a divisão daqueles que insistem em apostar fichas somente na rejeição aos líderes do cercadinho e do PT. Corrente surgida na ideologia social-democrata e promovida por alguns partidários do liberalismo social, a chamada terceira via tenta reconciliar posicionamentos político-econômicos tradicionalmente associados à direita e à esquerda.

Longe de ser uma consolidada alternativa à bifurcação extremista, o segmento usa o discurso de alternativa do meio termo às propostas do liberalismo econômico e do socialismo. É o caminho perfeito para a alternância, para o revezamento, para a mutação. Talvez seja a melhor solução para o singular momento do país. Avaliando passado e presente da política nacional, a terceira via pode ser a grande opção eleitoral do ano que vem. Pode, desde que realmente queira ser. Repetir os erros cometidos pela esquerda em 2018, quando insistiram na fragmentação de potenciais postulantes no primeiro turno e não se ajudaram no segundo, é suicídio anunciado.

A vaidade de uns e a certeza da força de outros têm gerado uma fantástica pulverização de nomes, o que fatalmente dificultará a construção de uma candidatura única, consequentemente forte para enfrentar o poderio e a militância do eleitorado opositor. A “variedade” entre os tertius afasta a possibilidade de que algum deles mude o destino do pleito. Ou seja, ou repensam ou perdem a eleição. Por enquanto, o grupo que se mostra como opção a Lula e a Bolsonaro ganha atenção do eleitor, mas ainda bate cabeça atrás de apoio popular. Embora algumas pesquisas comprovem que o eleitorado nem/nem (“nem Bolsonaro, nem Lula”) já beira os 30%, percentual que garantiria espaço para alguém da terceira via no segundo turno, falta mostrar ao eleitor que o escolhido terá apoio dos demais.

Perderão todos se a decisão final for mais de um na mesma contenda. Estão postos os nomes dos governadores João Dória e Eduardo Leite e do ex-senador Arthur Virgílio, pelo PSDB, de Ciro Gomes (PDT), do ex-juiz Sérgio Moro (Podemos), dos senadores Simone Tebet (MDB), Rodrigo Pacheco (PSD) e Alessandro Vieira (Cidadania), do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM) e do cientista político Luiz Felipe D’Ávila (Novo). Até agora, difícil saber em quem apostar. As vantagens deles sobre o atual e o ex-presidente são a novidade e a aparente falta dos vícios políticos que combatemos faz décadas.

Mantendo a pulverização de nomes, a terceira via dificilmente conseguirá dobrar a primeira esquina da avenida chamada política. Só se houver um cataclisma. Na disputa das prévias do PSDB para definir o candidato tucano ao Planalto, o gaúcho Eduardo Leite acredita que a alta rejeição a Bolsonaro e a Lula fará com que a indicação alternativa avance à rodada final das eleições de 2022. Pode ser, mas não é o que mostram as últimas pesquisas de intenção de votos. Elas indicam vitória de Luiz Inácio diante de qualquer cenário tanto no primeiro quanto no segundo turnos. O quadro sucessório é dramático ou quem sabe cruel, mas é o que temos. Como a conta é nossa, melhor é deixarmos de ser aventureiros. Que o próximo passo seja futurista e um grande salto para o infinito.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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