O secretário de Ciência e Tecnologia no governo de Agnelo Queiroz foi informado à época das eleições do ano passado dos desmandos que aconteciam no Planetário de Brasília. Uma carta protocolada no gabinete de Glauco Rojas apontava cenas constrangedoras. A signatária não se refere a assédio sexual (‘tive medo de ser mal interpretada’, admite hoje) mas comunica que preferia deixar o emprego e se dedicar à futura profissão de médica, a se submeter a constrangimentos.
Na correspondência a Glauco Rojas, a ex-servidora terceirizada do Planetário indica a existência de grupos de mulheres que eram favorecidas pelos superiores. (… Desde que entrei, percebi que executar nosssas funções não era algo tão difícil de se fazer … Infelizmente, as coisas começaram a desandar de uma forma rápida e impressionante…), enfatiza a carta.
A ex-funcionária, a que Notibras decidiu chamar por L., para preservar sua identidade, emprega tons informais na correspondência ao ex-secretário, mostrando uma certa familiaridade com Glauco.
– Eu poderia mencionar alguns casos em particular que aconteceram com a encarregada Rejane, mas creio que estás ciente dos ocorridos. Dos deboches da parte dela junto com esse grupinho que já mencionei, para cima de não só da minha pessoa, mas como de… (nomes omitidos a pedido da fonte) e tantos outros que, por respeito aos seus receios de serem oprimidos de alguma forma, não menciono aqui.
Mais adiante, L sublinha: “Espero, de verdade, que medidas sejam tomadas. A situação está realmente crítica lá dentro e conversar com as pessoas já não adianta mais. Queria também dar uma ênfase que, o motivo deu (sic) ter saído do Planetário foi que realmente eu preciso me dedicar mais ao meu sonho de ser médica, mas estou, realmente, agradecida pela oportunidade com todo o meu ser. Foi uma experiência que me fez amadurecer bastante, criar um senso de responsabilidade essencial e aprendi a lidar com diversos tipos diferentes de pessoas, o que julgo como uma das coisas mais importantes que aprendi nesses 5 meses de trabalho.
A denúncia de assédio sexual e moral a funcionárias terceirizadas do Planetário foi feita em reportagem de Notibras no sábado 17. No mesmo dia, a Direção de Redação do Grupo Notibras de Comunicação, que edita este portal de notícias, foi informada extraoficialmente da existência de registro de ocorrência policial contra o repórter Elton Santos, autor do texto.
O repórter foi afastado da cobertura do assunto, em decisão consensual com a Direção de Redação, que deslocou outros dois profissionais para continuar apurando os fatos. Notibras entende, assim, que preserva seu profissional, na medida em que não escreverá sob pressão psicológica por ter seu nome supostamente anotado em uma delegacia policial, o que Notibras considera um gesto afrontoso. O jornalista Elton Santos continuará trabalhando normalmente, embora atendendo a outras pautas.
Karla Maranhão e Felipe Meirelles
Matéria alterada às 23h02, para exclusão da íntegra da carta, a pedido da fonte.